Folha de S.Paulo

Orçamento pode ter novo bloqueio, após pressões de políticos

Equipe econômica prevê dificuldad­e mesmo para cumprir nova meta fiscal, que prevê rombo de R$ 159 bi neste ano

- BRUNO BOGHOSSIAN MARINA DIAS

Governo aposta em sucesso de leilões para evitar cortes, após mudar Refis e possível acordo sobre usinas

A equipe econômica de Michel Temer já admite que terá de fazer mais um bloqueio expressivo no Orçamento até o fim deste ano para cumprir a nova meta fiscal proposta pelo governo, que amplia o rombo para R$ 159 bilhões.

Na avaliação de auxiliares do presidente, o aumento do deficit de 2017 em R$ 20 bilhões não será suficiente para fechar as contas, devido a frustraçõe­s de arrecadaçã­o e a dificuldad­es com receitas extraordin­árias, como o Refis (programa de refinancia­mento de dívidas tributária­s) e a venda de usinas da Cemig.

O ministro Henrique Meirelles (Fazenda) contava com R$ 24 bilhões dessas duas fontes: R$ 13 bilhões do programa de refinancia­mento e R$ 11 bilhões da concessão das hidrelétri­cas.

As resistênci­as políticas enfrentada­s pelo governo para levar adiante essas medidas já fizeram a equipe econômica rever as projeções.

No Refis, Meirelles alterou a proposta original e reduziu a previsão de arrecadaçã­o para cerca de R$ 8 bilhões.

A Fazenda também enfrenta um impasse em torno da tentativa de venda de quatro usinas da Cemig e busca um acordo que permita à estatal assegurar a concessão das hidrelétri­cas. A operação atenderia a uma demanda de políticos mineiros, mas tornaria incerta a receita gerada.

Com a previsão de menos dinheiro em caixa, parte da equipe econômica calcula que o governo corre o risco de estourar o deficit de R$ 159 bilhões caso não haja um novo congelamen­to de despesas até o fim deste ano.

A intenção da equipe econômica é fazer os cortes apenas no fim do ano, quando os cálculos do fechamento das contas estarão mais claros. APETITE DE POLÍTICOS Ao decidir elevar a meta, no início de agosto, o governo esperava liberar parte do Orçamento para destravar a máquina pública, retomar obras e saciar o apetite de políticos aliados por recursos.

A expectativ­a de aprovação da nova meta fiscal pelo Congresso levou o Ministério do Planejamen­to a trabalhar com um cenário que permitiria o desconting­enciamento de até R$ 20 bilhões.

O secretário-executivo da pasta, Esteves Colnago, chegou a afirmar durante a semana que poderiam ser liberados R$ 10 bilhões para custeio de ministério­s e serviços públicos e mais R$ 10 bilhões para investimen­tos.

Ele admitiu, porém, que a perda de receitas levaria o governo a rever esses planos.

A Fazenda também trabalha com esse quadro.

O governo acredita que os futuros leilões de petróleo e energia podem render mais dinheiro do que o esperado. O recurso, porém, não deve ser suficiente para evitar novo bloqueio do Orçamento.

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Zanone Fraissat - 21.ago.2017/Folhapress O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, em São Paulo

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