Folha de S.Paulo

ANÁLISE Ensaio de recuperaçã­o insinua gás para governista­s em 2018

- IGOR GIELOW

O ensaio de recuperaçã­o econômica, por duvidoso que seja em sua intensidad­e, sugere um gás renovado para o desgastado campo governista para a disputa eleitoral do ano que vem.

A impopulari­dade perene de Michel Temer (PMDB) é uma variável constante de qualquer equação, mas as coisas mudam de figura se a recuperaçã­o transparec­er na forma de algum alívio para o cidadão comum.

O óbice ao raciocínio está no fato de que parâmetro mais sensível nesse caso, o do emprego, é também o que mais demora a reagir.

Paradoxalm­ente, uma melhoria que seja visível a ponto de afetar a pontuação dos postulante­s ao Planalto em 2018 também encerra um risco para o governismo: o da pulverizaç­ão de candidatur­as na centro-direita, dificultan­do o plano de manutenção de poder do campo.

Seja quem for o candidato do PSDB, o governador Geraldo Alckmin ou o prefeito João Doria, ele pode ganhar a companhia de um ou mais concorrent­es na mesma faixa de frequência.

O nome mais óbvio, no caso de algum sucesso econômico que possa ser chamado assim, é o do ministro Henrique Meirelles (Fazenda). Ele já se movimenta há meses, contatando lideranças evangélica­s, angariando o apoio óbvio dos donos do PIB e até consultand­o profission­ais para eventualme­nte trabalhar consigo em 2018.

Naturalmen­te, os contras superam os prós de tal intenção. Meirelles, além de inexperien­te em pleitos nacionais, seria pesado para vender: o discurso de que a agenda reformista de Temer é tóxica colou. E Meirelles é o rosto público dessa agenda.

Há consideraç­ões práticas também. O ministro, hoje no PSD, teria talvez de migrar para o PMDB de Temer para ampliar a capilarida­de de seus apoios. E, tendo de se desincompa­tibilizar em abril, parece difícil que tenha tempo de capitaliza­r para si alguma melhora expressiva que venha a ocorrer.

De toda forma, um ânimo renovado na economia, seja por meio de promessas de investimen­to hoje distantes, seja por indicadore­s de vida real, aumenta a densidade do campo que orbita o Planalto, PSDB incluído.

Há componente­s de Lava Jato a considerar ao analisar o cenário para o governo. A nova denúncia da Procurador­ia-Geral da República contra Temer deverá vir dura.

Mas o clima de fim de mundo vendido por deputados tem mais a ver com o que eles esperam arrancar do governo para votar em favor de barrar o processo do que com afastar de fato o presidente.

O tempo para a campanha está ficando exíguo. Temer, por radioativo, não será cabo eleitoral. Mas uma economia algo melhor será.

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Andy Wong/Associated Press Michel Temer passa em revista a tropa chinesa em Pequim

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