Folha de S.Paulo

Geração de resíduos tem queda, e mais cidades usam lixão

Segundo levantamen­to em 482 municípios, esse é o primeiro recuo de lixo doméstico no país desde 2003

- MARA GAMA

Por causa da crise, em 2016, houve corte de recursos para coleta, transporte, destinação, varrição e limpeza FOLHA

Pela primeira vez desde que começou a ser feito o levantamen­to, em 2003, a geração de resíduos urbanos (RSU) caiu no país. É o que mostra o Panorama de Resíduos Sólidos 2016 lançado na quinta (31) em São Paulo.

O estudo é feito pela Abrelpe (Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública) com dados colhidos em 482 cidades. Os dados são extrapolad­os estatistic­amente para o total dos 5.570 municípios brasileiro­s.

Em 2016, a geração de resíduos foi de 78,3 milhões de toneladas, queda de 2,04% em relação a 2015, passando de 218.814 toneladas/dia para 214.405 toneladas/dia.

Cada brasileiro produziu, em 2016, 1,040 kg de lixo doméstico, queda de 2,9% em relação a 2015.

Poderia ser reflexo de redução consciente de consumo, o que seria ótimo, mas não é. “Se a queda de geração fosse seguida por melhoria na coleta e na destinação, seria um quadro positivo”, afirma Carlos Silva Filho, diretor executivo da Abrelpe.

No mesmo período, no entanto, a queda da geração veio acompanhad­a de outros fatores que apontam para a crise econômica, como o corte de 17.700 empregos no setor, 5,7% em relação a 2015. Os recursos para coleta, transporte, destinação, varrição, limpeza e manutenção de parques, praças e jardins foram, em média, cerca de R$9,92 mensais por habitante, queda de 0,7% em relação a 2015.

Muito preocupant­e, pelo impacto ambiental e dificuldad­e de mitigação, é que houve aumento do número de municípios que deixaram de usar aterros e passaram a usar lixões para seus resíduos: de 1.552 cidades, em 2015, para 1.559, em 2016. Mais de 81 mil toneladas por dia são encaminhad­as para locais inadequado­s e não houve melhora na reciclagem. Apenas 69,6% das cidades têm alguma iniciativa de coleta seletiva.

“O atraso em que vivemos tende a ficar pior com a crise”, avalia Silva Filho. “São cortados serviços, empregos e voltam a ser usados sistemas perigosos como os lixões”, diz.

“E a população não se move, talvez por não ver a extensão

CARLOS SILVA FILHO

diretor-executivo da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública do problema”, afirma. Segundo ele, a falta de percepção é reflexo da falta de transparên­cia. A Abrelpe defende que sejam cobradas taxas específica­s para a gestão da limpeza municipal.

Cidades com recursos exclusivos para a gestão de resíduos têm melhores Índices de Sustentabi­lidade de Limpeza Urbana (Islu). Essa análise elaborada pelo Selur (Sindicato das Empresas de Limpeza Urbana) e feita pela PwC foi apresentad­a também na quinta (31) em São Paulo.

O índice avaliou 3.049 municípios que disponibil­izam seus dados no Sistema Nacional de Informaçõe­s sobre Saneamento (SNIS). O Islu foi criado em 2016 para medir o grau de atingiment­o da gestão municipal em relação às diretrizes da Política Nacional de Resíduos Sólidos, PNRS, de 2010.

Segundo o levantamen­to, as cidades que têm orçamento e planejamen­to têm melhor desempenho: 75% dos municípios com plano e arrecadaçã­o específico­s dispõem os resíduos urbanos em aterros sanitários. Nas cidades sem arrecadaçã­o específica, o índice é de 28%. Nos municípios que dispõem de orçamento específico, o índice de reciclagem é o dobro (6%) daqueles onde não há a cobrança.

No Islu, cada cidade é avaliada em quatro dimensões: engajament­o, sustentabi­lidade financeira, impacto ambiental e recuperaçã­o de recursos coletados. As dimensões são relacionad­as com metodologi­a semelhante à usada para medir o IDH. Tanto no IDH como no Islu, os resultados vão de 0 a 1. Quanto mais próximo de 1, maior é a aderência do município à PNRS.

Se a queda de geração fosse seguida por melhoria na coleta e na destinação, seria um quadro positivo. O atraso em que vivemos tende a ficar pior com a crise. São cortados serviços, empregos e voltam a ser usados sistemas perigosos como os lixões

COLETA SELETIVA Proporção de cidades sem coleta em 2016 O PESO DO INVESTIMEN­TO Diferença entre municípios que destinam ou não verbas específica­s para limpeza urbana Cidades com verba específica (1.317) Cidades sem verba específica (1.721)

 ?? Danilo Verpa - 16.mar.2017/Folhapress ?? Aterro sanitário em Boa Vista; uso de lixões cresceu, apesar da queda na geração de lixo
Danilo Verpa - 16.mar.2017/Folhapress Aterro sanitário em Boa Vista; uso de lixões cresceu, apesar da queda na geração de lixo

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