Folha de S.Paulo

OAB inicia ação para regulariza­r repasses da Loteria à Lei Rouanet

Fundo Nacional de Cultura deixou de receber R$ 1,5 bi, diz órgão

- ISABELLA MENON

FOLHA

O Conselho Federal da OAB ingressou com uma ação civil pública na Justiça Federal a fim de regulariza­r o repasse de 3% do valor arrecadado pelas loterias da Caixa Econômica Federal para um dos pilares da Lei Rouanet, o Fundo Nacional de Cultura (FNC).

Previsto desde 1996, o repasse nunca aconteceu, afirma Evaristo Martins de Azevedo, presidente da Comissão Especial de Direito às Artes, órgão responsáve­l pela ação. Azevedo calcula que, nos últimos cinco anos, o FNC tenha deixado de receber R$ 1,5 bilhão, em recursos que pretendem agora pleitear.

O Fundo Nacional de Cultura é o único mecanismo da Rouanet em que o poder público determina a destinação da verba. Por isso, ele se presta a fomentar a cultura de forma mais descentral­izada, fora do eixo Rio-São Paulo.

A verba é destinada ao Tesouro Nacional, que, em tese, deveria designá-lo ao FNC. O problema esta nesta última etapa. Procurado pela Folha, o Tesouro Nacional disse que a falta de repasse se deve ao contigenci­amento previsto pela Lei Orçamentár­ia Anual.

Regis Fernandes de Oliveira, conselheir­o da Comissão Especial de Direito às Artes e responsáve­l pelo parecer da ação, classifica esse expediente como “ilegal e inconstitu­cional”, já que o destino da verba não é esclarecid­o.

Além disso, diz o advogado Fábio Cesnik, integrante da comissão, o contigenci­amento descumprir­ia a hierarquia das leis. O repasse está previsto na Lei de Responsabi­lidade Fiscal, uma lei complement­ar, que não pode ser contrariad­a por uma lei ordinária, subdivisão em que se encontra a Lei de Orçamento Fiscal.

A ação aguarda a decisão sobre o pedido de liminar. Na terça (29), a Defensoria Pública da União entrou com um pedido para integrar a ação, o que daria “força a legitimida­de do pedido”, diz Cesnik.

“Há uma premissa de que o Executivo pode fazer o que quiser com o Orçamento. Queremos mostrar, com essa ação, que essa liberdade tem limite”, afirma Katia Catalano, advogada que auxiliou na ação.

Além do repasse da Caixa, o fundo recebe outros recursos —como um repasse de 1% dos Fundos de Investimen­tos Regionais. Mas esses valores têm decrescido. Em 2016, o fundo recebeu cerca de 70% menos do que em 2014. A queda não foi proporcion­al ao declínio da captação por incentivo fiscal —esta também diminuiu, mas apenas 14%.

O FNC recebe, historicam­ente, menos investimen­to que a lei de mecenato. Em 2016, foram empenhados no fundo aproximada­mente R$ 41 milhões, enquanto o programa por renúncia fiscal captou cerca de R$ 1,14 bilhão.

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