Folha de S.Paulo

Espetáculo adentra mundo imaginário de mente perturbada

Montagem de ‘Terra dos Outros Felizes’, texto com tintas de absurdo da dramaturga Michelle Ferreira, estreia hoje

- MARIA LUÍSA BARSANELLI

No limiar entre ficção e realidade, peça retrata mulher que, depois de descobrir uma doença, passa a recriar sua vida

Silvia descobre ter uma doença fatal, e o baque de realidade leva a personagem a um caminho oposto: ela cria um mundo próprio, etéreo, em que a imaginação se mistura aos fatos reais de sua vida.

É nesse limiar entre a realidade e a ficção que transita o espetáculo “Terra dos Outros Felizes - O Jogo dos Amigos Imaginário­s”.

O texto com tintas de absurdo da dramaturga Michelle Ferreira ganhou encenação de Vanessa Guillen, em montagem que estreia neste sábado (2) em São Paulo.

A trama acompanha o encontro de Silvia (papel de Deborah Graça) com um grupo de amigos na casa de praia de sua família. O cheiro de mofo do imóvel, a chuva lá fora que deixa todos enclausura­dos são por vezes uma ligação com a realidade. Noutras, um reflexo da mente perturbada da protagonis­ta.

O texto de Michelle, expoente da nova dramaturgi­a paulistana (são dela peças como “Os Adultos Estão na Sala” e “Tem Alguém que nos Odeia”), pontua a as falas corriqueir­as do grupo de amigos com momentos nebulosos, em que não fica claro se o que se vê é uma situação real ou o fruto da imaginação de Silvia.

“O espetáculo sobrepõe várias camadas de realidade”, afirma Vanessa. “E a gente deixa tudo [a realidade e a ficção] muito aberto à interpreta­ção do público.”

“Nunca dá para saber se ela está imaginando ou não. Sempre fica essa dúvida”, completa Deborah.

Silvia parece recriar, como num teatro, momentos da própria vida. Por vezes, os amigos se assemelham a atores interpreta­ndo figuras do círculo social da personagem. Chegam a se desculpar quando não atingem o tom de fulano ou falam algo que ciclano “nunca diria”.

“Ela está cercada de muita gente, mas também está sozinha”, comenta a atriz Katia Calsavara. “É muita solidão em meio de tanto amigo.”

O cenário de Márcia Pires também fica na fronteira entre real e imaginário. O jardim do quintal da casa é representa­da por um papel amassado, que tem um aspecto de terra, mas também de cimento. Há várias transições de luz e clima, ainda que a história se passe em apenas um dia. GESTAÇÃO A temporada de “Terra dos Outros Felizes” integra o projeto de ocupação Berçário Teatral, que teve início neste semestre. A ideia é criar um espaço de gestação de peças e movimentar, com apresentaç­ões de espetáculo­s, o Teatro dos Arcos, no bairro paulistano da Bela Vista. O local antes era usado apenas como espaço de ensaio e escritório. QUANDO sáb. e dom., às 19h; até 24/9 ONDE Teatro dos Arcos, r. Jandaia, 218, tel. (11) 3101-8589 QUANTO grátis (ingressos distribuíd­os uma hora antes da sessão) CLASSIFICA­ÇÃO 12 anos

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Lenise Pinheiro/Folhapress Deborah Graça (esq.) e Katia Calsavara durante ensaio da peça ‘Terra dos Outros Felizes’

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