Nos intervalos comerciais.
que uma controversa decisão política entendida como golpe de Estado por parte do eleitorado afundou o Brasil num mar turvo de instabilidade.
Nesses dois momentos de desilusão e incerteza, as notícias já chegavam às massas direto da bancada do “Jornal Nacional”, o noticiário de maior audiência do país.
Sua maneira de dar uma versão alternativa dos fatos respeita também o mesmo mecanismo. “Lígia”, o vídeo, vai ao ar on-line ao longo deste mês no site Aarea.co nos mesmos horários que o telejornal, tendo o sinal cortado MECANISMOS É algo quase retrô num mundo tomado por canais de vídeo sob demanda, em que tudo pode ser visto em qualquer lugar a qualquer hora via streaming. Ramos subverte e questiona, nesse sentido, a ideia de amálgama entre passado, presente e futuro que nasceu com a internet.
E escolhe a bossa nova como trilha sonora de um pesadelo. Existe um humor involuntário na seriedade dos âncoras que roça a melancólica letra de entardeceres solitários à beira do Atlântico.
Também chega a ser um tanto exaustivo, lembrando outros trabalhos de pegada política mais explícita do artista plástico, como sua leitura dos nomes dos 111 mortos no massacre do Carandiru, em outubro de 1992, ao longo de 24 horas ininterruptas.
Ramos agora funde a notícia à música para forjar uma ópera-bufa, um lamento por dias que nunca chegarão embora já venham emoldurados pela parafernália visual de um plantão de notícias —as novidades amargas a inundar este país anestesiado.