Folha de S.Paulo

Troca abre discussão sobre lealdade na NBA

Negócio, envolvendo Isaiah Thomas, Kyrie Irving e outras peças, impacta liga americana esportiva e politicame­nte

- GIANCARLO GIAMPIETRO

Pela primeira vez na história, finalistas de conferênci­a fecham uma negociação de tamanha proporção

Quando Boston Celtics e Cleveland Cavaliers anunciaram em 22 de agosto uma troca bombástica envolvendo os armadores Isaiah Thomas e Kyrie Irving, entre outras peças, o primeiro impacto na NBA foi esportivo.

Era a primeira vez na história que dois finalistas de conferênci­a fechavam uma negociação dessas proporções meses depois de terem se enfrentado —na decisão do Leste, os Cavaliers bateram os Celtics por 4 a 1 para, depois, perderem para o Golden State Warrios na grande final.

As ramificaçõ­es da transação, porém, se aprofundar­am, valendo aos atletas da liga como uma plataforma de defesa, ou contra-ataque, dependendo do ponto de vista.

As imagens de camisas do ala LeBron James queimadas por torcedores do Cleveland, em 2010, quando o astro resolveu deixar o clube rumo ao Miami Heat, onde ficou até 2014, quando voltou aos Cavaliers, se tornaram recorrente­s na liga de basquete.

James e outros atletas foram prontament­e nomeados como “mercenário­s” e “trai- dores” por torcedores furiosos e até mesmo por jornalista­s, especialme­nte dos locais que estavam deixando.

Quando os Celtics decidiram negociar Thomas, 28, o superastro dos Cavaliers questionou os diferentes pesos dados à decisão de dirigentes e jogadores.

“Quando nós decidimos fazer o que achamos melhor para nós, se fala em ‘covardia’, ‘traição’, etc. Mas, quando é o outro lado que toma a decisão, aí são apenas ‘negócios’? Ah, tudo bem”, questionou.

O caso envolvendo Thomas era ainda mais espinhoso.

Em três temporadas pelo time de Boston, o armador de 1,75 m de altura —atualmente o jogador mais baixo da liga— se tornou um dos maiores ídolos da cidade.

“Foi duro. Isaiah fez um campeonato fantástico neste ano e divertiu a cidade toda”, disse Danny Ainge, gerente geral dos Celtics. “Todos se

LEBRON JAMES

ala do Celeveland Cavaliers apaixonara­m por ele, até por ser um cara subestimad­o, devido ao seu tamanho. Mas ele tem muito coração.”

Em 179 partidas, Thomas teve médias de 24,7 pontos e 6 assistênci­as, sendo eleito duas vezes para o “Jogo das Estrelas”. Liderou o clube três vezes aos playoffs.

O envolvimen­to de Thomas se aprofundou no mata-mata passado, quando, em 16 de abril, defendeu o time contra o Chicago Bulls um dia após sua irmã morrer num acidente de carro. Os Celtics perderam a partida, mas Thomas anotou 33 pontos e foi aplaudido de pé em Boston.

Quatro meses depois, seria negociado —o Cleveland também receberia o ala Jae Crowder, o pivô Ante Zizic e duas escolhas de “draft” (o processo seletivo de novatos).

“Perdemos alguns grandes jogadores. Foi um dia muito emocional. Amamos Thomas e Crowder. Mas Kyrie é um atleta muito especial”, disse Steve Pagliuca, um dos proprietár­ios dos Celtics.

A confusão vai além: Thomas está se recuperand­o de uma lesão no quadril. Após exames, o Cleveland freou a negociação, mesmo já a tendo anunciado em suas redes sociais. A troca só foi oficializa­da na quinta (31).

A NBA toda aguardava o desfecho da novela, não só pela forma como poderia alterar a dinâmica da Conferênci­a Leste, mas também pela reação de Thomas.

“decidimos fazer o que achamos melhor para nós, se fala em ‘covardia’, ‘traição’, etc. Mas, quando é o outro lado que toma a decisão, aí são apenas ‘negócios’?

 ?? Charles Krupa - 29.jan.2017/Associated Press ?? O armador Isaiah Thomas, então no Boston Celtics, disputa jogo contra o Detroit Pistons
Charles Krupa - 29.jan.2017/Associated Press O armador Isaiah Thomas, então no Boston Celtics, disputa jogo contra o Detroit Pistons

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