Como falar da maconha?
SÃO PAULO - Num mundo ideal, as drogas seriam todas legalizadas, e ninguém as usaria.
Meu argumento pró-legalização é essencialmente filosófico. Não cabe ao Estado determinar o que cada indivíduo pode ou não ingerir e muito menos definir o tipo de vida que cada um deve levar. Se o cidadão deseja mergulhar num entorpecimento semipermanente e não se importa em destruir sua saúde nesse processo, é um direito seu fazê-lo.
Subsidiariamente,tambémmeparece interessante privar o crime organizado de uma de suas principais fontes de lucro. Vender drogas, afinal, é um delito muito fácil. O tráfico é um dos raros tipos de transgressão penal em que a suposta vítima chega a fazer fila para “sofrer” a injúria.
Existemtambémargumentoscontra a legalização. Eles são de ordem sanitária. Se mais gente consumir drogas, teremos de lidar com um número maior de complicações médicas decorrentes do abuso.
Nesse contexto, preocupa-me a glamourizaçãodamaconha.Elaaparecedeformasimpáticaemfilmesde Hollywood, reportagens na mídia etc. Dá para afirmar com segurança que o álcool causa mais danos à sociedadedoqueamaconha,mas,ainda assim, a Cannabis continua sendo uma droga. Ela traz riscos à saúde e, para uma pequena minoria da população,temimpactodevastador.
São inquietantes, por exemplo, as metanálises que ligam o consumo de maconha ao desenvolvimento de psicose crônica e esquizofrenia. Embora seja difícil prová-lo estatisticamente, muitos pesquisadores já apostam que essa seja uma relação causal e não de mero gatilho.
Para conciliar liberdade com sanidade, precisamos deixar de tratar drogascomocasodepolíciasem,entretanto, sancionar socialmente seu uso pintando-as como charmosas. Precisamos transmitir a mensagem de que são um mal a ser tolerado, não símbolo de status. É o que fizemoscomotabacoevemdandocerto. helio@uol.com.br