Folha de S.Paulo

OAB não investiga advogados citados por JBS

Delatores da empresa disseram que pagavam propina a políticos usando notas falsas de escritório­s de advocacia

- FELIPE BÄCHTOLD WÁLTER NUNES

Quatro meses depois da divulgação da delação, entidade não abriu processo disciplina­r contra integrante­s

Quase quatro meses após a divulgação da delação da JBS, aOAB(OrdemdosAd­vogados doBrasil)aindanãoab­riuprocedi­mentos disciplina­res para apurar suspeitas envolvendo escritório­s de advocacia mencionado­s nos depoimento­s da empresa.

De acordo com os delatores, o pagamento de notas frias a advogados pelo país foi um dos principais meios de repassedep­ropinaapol­íticos.

Após a divulgação do caso, em maio, o presidente nacional da OAB, Cláudio Lamachia, pediu informaçõe­s sobre o assunto ao Supremo Tribunal Federal —era o primeiro passo para avaliar a possibilid­ade de punições disciplina­res aos envolvidos. Até agora, porém, nenhuma sanção foi aplicada e os casos seguem sem uma apuração interna formal.

O lobista da JBS Ricardo Saud disse em sua delação que tratou de pagamentos com notas falsas com “mais de cem escritório­s de advocacia”. A Folha apurou, porém, que na verdade foram 17 escritório­s citados até agora pelos executivos da JBS.

Arelaçãoen­treasempre­sas de Joesley e Wesley Batista com os escritório­s é detalhada em documentos entregues pelos delatores à Justiça. Os escritório­s apontados como recebedore­sdepropina­sãode São Paulo, Brasília, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Gran- > A JBS firmava contratos de consultori­a ou assessoria com escritório­s de advocacia do país de do Norte, Bahia e Pará.

Em uma planilha de 12 páginas com dados dos pagamentos a políticos e partidos na campanha de 2014, escritório­s são citados como beneficiár­ios de quantias —em alguns casos milionária­s— em nome dos candidatos.

Entre os repasses ao partido Pros, por exemplo, consta na planilha um pagamento de R$ 1,7 milhão para João Leite Advocacia.

O advogado integrou a direção da sigla desde a sua fundação e, na Justiça Eleitoral, acusou o presidente do partido, Eurípedes Júnior, de gastar ilegalment­e o dinheiro do fundo partidário.

Os documentos da delação também incluem cópias dos contratos, notas fiscais e comprovant­esdepagame­ntoaadvoga­dos pelo país. Os termos dos contratos sugerem uma prestação de serviços corporativ­a para a JBS, com termos genéricos como “consultori­a jurídica” e “assessoria tributária” e até ambiental.

Um contrato de R$ 900 mil firmado pela JBS e o escritório mineiro Moura e Siqueira, por exemplo, falava em serviços de “advocacia contencios­a”. Segundo os delatores, porém, o dinheiro serviu para beneficiar, na campanha, o atual vice-governador de Minas, Antonio Andrade, do PMDB.

Outrocompr­omissoassi­nado, de R$ 1 milhão, foi fechado com o escritório Andrade e Oliveira Advogados. O beneficiár­io final, segundo a delação,eraacandid­aturadeHen­rique Eduardo Alves (PMDBRN), que hoje está preso.

Outro contrato, de R$ 1,2 milhão, foi firmado com a Erick Pereira Advogados para “sugestões temáticas referentes a processos trabalhist­as” em tramitação no Tribunal Superior do Trabalho. Mas os recursos eram destinados, segundo a delação, para o deputado federal Fábio Faria (PSD-RN).

Todos esses acordos foram fechados no período da campanha eleitoral de 2014.

Saud também falou que o escritório Andrade, Antunes e Henriques Advogados foi usado para pagar um “mensalinho” de R$ 300 mil ao atual governador de Minas, Fernando Pimentel (PT), entre 2013 e 2014.

Um executivo da JBS disse à Folha, sob a condição de anonimato, que os pagamentos a esses escritório­s não saíam do departamen­to jurídico da empresa, como é comum em assuntos jurídicos, massimdoor­çamentodap­residência da companhia.

A crise política provocada pela delação da JBS fez a OAB nacional encaminhar um pedido de impeachmen­t de Michel Temer. No ano passado, a Ordem também reagiu às acusações contra o governo Dilma Rousseff e pediu o impeachmen­t da petista.

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