Gravação deve elevar a pressão sobre PGR
Segundo os delatores, Janot ‘sabe tudo’
Na gravação entregue pela JBS à PGR (Procuradoria-Geral da República), o empresário Joesley Batista disse que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, tinha conhecimento da sua decisão de fazer acordo de delação antes do início da negociação.
Esses e outros pontos aumentam a pressão sobre Janot e enfraquecem sua margem de atuação a poucos dias de deixar o cargo —ele deixa o posto no próximo dia 17 de setembro.
No áudio, Joesley indica que Janot era informado das suas movimentações por meio de outros procuradores.
O empresário tentava acalmar um funcionário, Ricardo Saud, que também viria a ser delator, pois ele estava preocupado com a deflagração da Operação Carne Fraca, ocorrida naquele mesmo dia da conversa, 17 de março.
O acordo de delação premiada só seria fechado com a PGR em abril.
Saud questionou Joesley sobre o Ministério Público ter deflagrado a Carne Fraca mesmo após as conversas deles com o então procurador Marcello Miller, que havia atuado no grupo de trabalho da Lava Jato na PGR.
Joesley disse que, em sua opinião, era “natural” o Ministério Público Federal manter a pressão. “O Janot sabe tudo, a turma já falou pro Janot”, disse Joesley a Saud, que quis saber se o seu chefe entendia que o informante de Janot seria Miller. Joesley negou.
No mesmo áudio, Saud também disse que Miller lhe mostrou uma mensagem de Janot na qual o procuradorgeral pedia ao colega que permanecesse no Ministério Público. Miller tinha pedido demissão do órgão em fevereiro. O pedido foi aceito em março.
Em outro trecho, Saud disse ter ouvido de Miller que ele tinha um “amigo em comum” que informava Janot sobre a delação. Saud disse ainda que Janot tinha um projeto de, após se aposentar, trabalhar com Miller em um escritório.
Em nota, a PGR afirmou que Janot “jamais aceitou convite para integrar qualquer escritório de advocacia”.
“Ao deixar a chefia do Ministério Público da União, Rodrigo Janot manterá o cargo de subprocurador-geral da República. Depois que se aposentar e cumprir três anos de quarentena, pretende atuar na iniciativa privada, especialmente na área de combate à corrupção em compliance, e publicar livros sobre sua experiência na PGR.”
(RUBENS VALENTE E REYNALDO TUROLLO JR.)