Folha de S.Paulo

Janot diz agir por medo de errar e decepciona­r

A colegas procurador-geral contou que pronunciam­ento sobre JBS foi um dos momentos mais tensos de sua carreira

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Chefe da Procurador­iaGeral da República deixa cargo no próximo dia 17; substituta, Dodge ouviu desabafo

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, disse nesta terça-feira (5) que o pronunciam­ento sobre a revisão do acordo de delação da JBS, feito na segunda (4), foi um dos momentos mais tensos de sua carreira.

Ele disse também que não age por coragem, mas por “medo de errar” e decepciona­r a instituiçã­o. Janot deixa a Procurador­ia-Geral da República no próximo dia 17, depois de quatro anos à frente do Ministério Público Federal.

“Alguém disse: ‘Você é um homem de muita coragem’. Eu pensei: ‘Será que sou?’ Eu pensei que não tenho coragem nenhuma, eu tenho é medo, e o medo nos faz alerta”, disse Janot durante sessão do Conselho Superior do Ministério Público Federal.

“Medo de quê? De errar muito e decepciona­r as instituiçõ­es. As questões que enfrentei, enfrentei por medo de errar, de me omitir, de decepciona­r minha instituiçã­o mais do que por coragem de enfrentar os desafios.”

O procurador-geral será substituíd­o no cargo por Raquel Dodge, nomeada no mês passado pelo presidente Michel Temer. Ela também é conselheir­a e estava na sessão desta terça.

Na segunda, quando anunciou a abertura de uma investigaç­ão que pode cancelar os benefícios do acordo de delação da JBS, Janot abriu sua fala com uma citação em inglês: “The only easy day was yesterday” (o único dia fácil foi ontem).

Na sessão do conselho, o procurador retomou o tom de dificuldad­e e disse se sentir em uma montanha-russa.

A PGR abriu procedimen­to para revisar os acordos de três delatores do grupo J&F, que controla a JBS: Joesley Batista, um dos donos, Ricardo Saud e Francisco de Assis.

Para Janot, há indícios de omissão de informaçõe­s sobre práticas de crimes no pro- cesso de negociação do acordo. O problema surgiu após os delatores entregarem à PGR novos áudios. Entre eles, uma conversa entre Joesley e Saud citando o ex-procurador Marcello Miller.

Representa­ntes da J&F decidiram entregar esse áudio depois de saberem que a Polícia Federal tinha uma gravação com conteúdo similar, segundo apurou a Folha .APF havia recuperado a gravação em aparelhos entregues anteriorme­nte pelos delatores.

Dois envolvidos no caso afirmaram à Folha que, dife- rentemente do que foi dito pelo procurador-geral da República, não foi um acidente o envio da gravação.

Eles disseram que o objetivo era o de minimizar danos aos benefícios concedidos aos delatores.

Na segunda-feira (4), Janot afirmou que o arquivo teria ido para a Procurador­ia de maneira acidental.

A versão relatada pela J&F é que esse áudio foi feito após uma conversa entre Joesley Batista e o lobista do grupo, Ricardo Saud, com o senador Ciro Nogueira (PP-PI).

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