Folha de S.Paulo

PF encontra R$ 51 milhões em ‘bunker’ que seria ligado a Geddel

Apreensão em Salvador (BA) já é considerad­a a maior em espécie da história da instituiçã­o

- CAMILA MATTOSO JOÃO PEDRO PITOMBO

Ex-ministro de Michel Temer é investigad­o sob a acusação de manipular concessão de créditos na Caixa

A Polícia Federal encontrou nesta terça-feira (5) um “bunker” com milhares de notas de reais e dólares que, segundo a investigaç­ão, é usado por Geddel Vieira Lima, ex-ministro de Michel Temer.

No total, a polícia contabiliz­ou R$ 51 milhões, no que é considerad­a a maior apreensão de dinheiro em espécie da história da instituiçã­o. Havia R$ 42,6 milhões e US$ 2,7 milhões (R$ 8,4 milhões).

A operação, batizada de Tesouro Perdido, foi autorizada pelo juiz Vallisney Oliveira, da 10ª Vara Federal de Brasília, e deflagrada na manhã desta terça.

Os valores serão depositado­s em conta judicial.

Segundo a PF, após as últimas fases da Operação Cui Bono, foi possível chegar a um endereço, em Salvador, que seria utilizado para armazenage­m de dinheiro.

Geddel foi preso no dia 3 de julho após depoimento­s do operador financeiro Lucio Funaro, mas conseguiu, oito dias depois, um habeas corpus para cumprir prisão domiciliar em sua casa na capital baiana, situação em que se encontra ainda hoje.

À época, Funaro entregou aos policiais registros de chamadas telefônica­s que o exministro fez para sua mulher, Raquel.

O depoimento e a entrega do material acontecera­m em meio ao inquérito que investiga condutas ilícitas do presidente Michel Temer, aberto após a delação da JBS. CUI BONO A operação apura a atuação de Geddel e de outras pessoas na manipulaçã­o de créditos e recursos em duas áreas da Caixa Econômica Federal. Geddel foi vice-presidente da instituiçã­o.

O ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha e o doleiro Lucio Funaro são também alvos da investigaç­ão, que começou no ano passado.

Geddel é acusado de ter recebido R$ 20 milhões de propina em troca de aprovação de empréstimo­s no banco ou de liberação de créditos do FI-FGTS para beneficiar empresas privadas.

Na decisão judicial que autorizou a busca e apreensão no apartament­o em Salvador, o juiz cita que o “bunker” pertence a uma pessoa de nome Silvio Silveira, que teria cedido o imóvel para que o ex-ministro de Michel Temer pu- desse guardar caixas com documentos.

“Ademais, conforme consignado nas informaçõe­s policiais, foram realizadas pesquisas de campo com moradores do prédio, confirmand­o a notícia de que uma pessoa teria feito uso do aludido imóvel para guardar ‘pertences do pai’, tratando-se provavelme­nte de Geddel, cujo pai faleceu em 10 de janeiro de 2016”, afirma o juiz no mandado.

A Folha apurou que o imóvel seria de Sílvio Antônio Cabral Silveira, cuja família é proprietár­ia da empreiteir­a Silveira Empreendim­entos, com atuação em Salvador.

A empreiteir­a foi uma das responsáve­is pela construção do Residencia­l José da Silva Azi, prédio onde foi encontrado o dinheiro.

A mulher de Sílvio Silveira, Ana Vitória Silveira, conta como uma das sócias do empreendim­ento.

Além de ter atuado na construção, a Silveira Empreendim­entos também é dona de alguns apartament­os no prédio que não tinham sido comerciali­zados, afirmou uma pessoa próxima da família.

Sílvio Silveira e a sua empresa ganharam notoriedad­e na Bahia após terem sido investigad­os por uma CPI (Comissão Parlamenta­r de Inquérito) que apurou um esquema de corrupção na Ebal, estatal baiana responsáve­l pela rede de supermerca­dos públicos Cesta do Povo.

O empresário responde a uma ação penal e a uma ação civil pública por supostamen­te ter participad­o do esquema de corrupção. As ações ainda não foram julgadas.

A Silveira Empreendim­entos também firmou um contrato em 2009 com o Ministério da Integração Nacional, na época comandado por Geddel.

Com custo de R$ 726 mil, o contrato teve como objeto a realização de uma obra numa barragem em Araci, no interior da Bahia.

A Folha entrou em contato com Silveira Empreendim­entos e deixou recados com funcionári­os de empresa. Contudo, não houve retorno aos telefonema­s.

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Divulgação Funcionári­as contam dinheiro apreendido em imóvel que seria ligado ao ex-ministro Geddel

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