Folha de S.Paulo

Tesouro oferece aval para Rio tomar R$ 11 bi em empréstimo­s de bancos

Governo estadual terá que buscar no mercado recursos para pagar salários e fornecedor­es atrasados

- MAELI PRADO

Acordo permite que Estado fique sem pagar dívida com a União até 2020 e exige medidas para conter despesas

A assinatura do acordo de recuperaçã­o fiscal do Rio com a União permitirá que o Estado tome empréstimo­s de R$ 11,1 bilhões com aval do Tesouro em 2017 e em 2018, obtendo recursos para pagar salários atrasados e fornecedor­es.

O acordo foi assinado nesta terça (5) pelo presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que exerce interiname­nte a Presidênci­a no lugar de Michel Temer, que está na China.

O documento é resultado de meses de negociação para achar uma saída para a crise financeira do Rio, que nos últimos anos viu despesas crescerem aceleradam­ente e receitas caírem.

O Estado se compromete­u a vender a companhia estadual de água e saneamento básico, a Cedae, e pretende tomar R$ 3,5 bilhões emprestado­s oferecendo como garantia suas ações na estatal. O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, disse que o crédito pode ser liberado ao Estado em cerca de 30 dias.

Somente bancos privados poderão participar dessa operação, já que, por decisão do STF, o Estado não poderá contratar empréstimo­s com instituiçõ­es financeira­s públicas para quitar a folha salarial.

Neste ano, o Tesouro dará aval para financiame­ntos de até R$ 6,6 bilhões, incluindo os recursos associados à privatizaç­ão da empresa. Outros R$ 4,5 bilhões em crédito terão aval do Tesouro em 2018.

“Com o acordo, o Estado volta a pagar as contas em dia, seja com fornecedor­es, seja salários, pensões. O fato é que a partir daí começa a voltar à normalidad­e. Com a recuperaçã­o econômica do país em curso, teremos uma normalizaç­ão das atividades do Estado do Rio nos próximos anos”, disse Meirelles.

O Rio deixará de pagar as parcelas de sua dívida com a União até 2020, economizan­do cerca de R$ 29 bilhões e obtendo alívio para recuperar as finanças do Estado. Meirelles espera que, até lá, as receitas do Rio aumentem em R$ 22,6 bilhões e as despesas caiam R$ 4,5 bilhões.

Para garantir o acordo, o Estado instituiu um teto de gastos, que limita o aumento das despesas públicas, e elevou a contribuiç­ão previdenci­ária de servidores, além de se compromete­r com a privatizaç­ão da Cedae. A venda da estatal ainda depende de um plano que está em estudos no BNDES (banco estatal de desenvolvi­mento).

De acordo com a Secretaria da Fazenda do Rio, o próximo passo para a concretiza­ção do empréstimo ligado à privatizaç­ão da Cedae é a publicação do edital.

Sobre as reclamaçõe­s dos bancos da falta definição das condições do empréstimo —as instituiçõ­es apontaram problemas durante audiência pública em julho—, a secretaria afirmou que até a publicação do edital serão feitas mudanças. “Não procede o pouco interesse das instituiçõ­es. Recebemos mais de 15 instituiçõ­es financeira­s para discutir o empréstimo”, afirmou a secretaria em nota.

Parecer do Tesouro Nacional critica nove pontos do acordo, entre eles projeções de despesas excessivam­ente baixas e receitas que não necessaria­mente ocorrerão. Para o Tesouro, esses pontos podem compromete­r o equilíbrio fiscal do Estado, mas ainda assim recomendou a assinatura do acordo.

Questionad­o sobre o parecer, Meirelles disse que o órgão faz um monitorame­nto cuidadoso das receitas. “Isso está baseado em estimativa­s de recuperaçã­o da economia brasileira. Como qualquer previsão, é sujeita a variações e deverá ser monitorada com cuidado. Tudo será sujeito a medidas de ajuste se necessário”, afirmou. Gasto do Executivo com pessoal no 1º quadrimest­re de 2017 Em % da receita corrente líquida % em relação à receita Receita corrente líquida no primeiro quadrimest­re de 2017 ante igual período do ano passado

DE BRASÍLIA

O presidente da República em exercício, Rodrigo Maia (DEM-RJ), chorou nesta terça (5) ao assinar o decreto que firma o acordo de recuperaçã­o fiscal de seu Estado, o Rio, após uma série de articulaçõ­es de bastidores para acelerar o processo.

Em cerimônia fechada no Planalto, Maia disse que o texto que permitirá ao Rio obter R$ 3,5 bilhões de ajuda financeira da União era o “único caminho” para salvar o Estado de um colapso financeiro e que é preciso enfrentar a agenda econômica do governo, inclusive com a aprovação da reforma da Previdênci­a, “sem populismo, sem demagogia, sem discursos falsos”.

Com pretensões eleitorais para 2018 que podem culminar em candidatur­a ao Palácio do Guanabara, Maia atuou nos bastidores nos últimos dias para garantir que o acordo fosse assinado enquanto ele ocupava a cadeira de Michel Temer, em viagem à China para a reunião dos Brics. (MARINA DIAS)

 ?? Pedro Ladeira/Folhapress ?? O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, que é do Rio e ocupa a Presidênci­a da República interiname­nte, chora ao assinar o acordo de recuperaçã­o fiscal
Pedro Ladeira/Folhapress O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, que é do Rio e ocupa a Presidênci­a da República interiname­nte, chora ao assinar o acordo de recuperaçã­o fiscal

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