Atrasado, Alckmin entrega três estações de linha ‘vazia’
Com quase três anos de atraso, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) entrega nesta quarta (6) três novas estações da linha 5-lilás do metrô de São Paulo. As paradas Alto da Boa Vista, Borba Gato e Brooklin, todas na zona sul, adicionam 2,8 km à rede atual de 68,5 km na cidade.
Anos atrás, o tucano chegou a prometer a entrega de toda essa linha até 2014.
As novas estações representam o prolongamento do trecho, que tem como origem a estação Capão Redondo, uma das áreas mais carentes da zona sul da cidade.
O objetivo do governo do Estado é que até o fim do ano esta linha siga no sentido nordeste e se conecte às linhas azul (estação Santa Cruz) e verde (Chácara Klabin). Dessa forma, a linha conseguirá aumentar o fluxo de passageiros, que atualmente opera abaixo do esperado e fora da rede metroviária (atualmente, o trecho faz contato apenas com a linha 9 da CPTM).
Quando o ramal estiver completo, com 20 km, a estimativa do governo é que ele transporte 800 mil passageiros por dia. Em 2016, a linha transportou em média 260 mil —dos 3,7 milhões de passageiros conduzidos diariamente pelo Metrô em dias úteis (sem contabilizar passageiros da linha privada 4-amarela).
“[Com a conexão com as demais linhas] quem vem da região do Capão Redondo terá o seu caminho facilitado até o centro e a avenida Paulista. Muitos poderão deixar o corredor de ônibus”, diz o secretário de Transportes Metropolitanos, Clodoaldo Pelissioni.
“E passaremos a atender uma região grande de classe média alta, mas muito adensada [Moema, Brooklin, Campo Belo]. Essas pessoas agora poderão usar o Metrô.”
O secretario diz ainda que o tempo de espera por um trem na linha também diminuirá. Atualmente, com exceção do monotrilho da linha 15-prata, a linha 5-lilás tem a espera mais longa. Fora da hora de pico, a média é de seis minutos. “O objetivo é um intervalo entre 2 e 3 minutos.”
Para a estudante Stefany de Andrade, 18, a inauguração total do ramal reduzirá as três horas de viagem em ônibus. Moradora do Campo Limpo, ela usa cinco ônibus todos os dias para ir até a faculdade, na Vila Mariana, e até o trabalho, em Santo Amaro. “Quando inaugurar tudo, até a linha 2, aí sim vai ser ótimo.”
Nesta quarta, começa a operação assistida, de segunda a sábado, das 10h às 15h, e sem a cobrança de passagem. A operação comercial deve estar plena em 60 a 90 dias.
A construção da linha 5-lilás foi marcada por seguidos erros de gestão e de planejamento dos governos estaduais e do próprio Metrô.
As obras, numa primeira etapa, foram iniciadas em 1998, ainda no governo do tucano Mário Covas. A inauguração das primeiras seis estações, num percurso de 9,4 km, ocorreu em 2002. Mas a operação comercial só se tornou plena (todos os dias e em horário estendido) em 2008.
Nos primeiros anos, a linha sofreu com a baixa adesão, já que ficava distante de outras estações do Metrô. A ociosidade chegou a custar R$ 2,8 milhões ao mês à companhia (diferença entre a arrecadação e a manutenção do trecho).
Em 2010, mais um tropeço no histórico da linha: uma reportagem da Folha mostrou que as empresas que venceriam os lotes para a segunda etapa do ramal (entre as estações Largo Treze e Chácara Klabin) já eram conhecidas seis meses antes da licitação.
A reportagem causou a suspensão da licitação e a abertura de investigações pelo Ministério Público. O caso segue na Justiça. Em 2011, Alckmin decidiu avançar as obras com os contratos suspeitos, contrariando recomendação da Promotoria. Desde então, entregou apenas uma estação.