‹ Tudo foi ‘dentro da lei’, afirmou Nuzman à PF
Responsável pelo esporte olímpico nacional há mais de 20 anos, Carlos Arthur Nuzman foi alvo da Operação Unfair Play, que investiga a suposta compra de voto para a escolha do Rio de Janeiro como sede da Olimpíada de 2016. Nesta terça-feira (5), ele foi intimado a depor na Polícia Federal, no Rio.
A operação mirou também o empresário Arthur César de Menezes Soares Filho, conhecido como “Rei Arthur”, suspeito de ser o responsável por pagar US$ 2 milhões (R$ 6,6 milhões em valores atuais) ao senegalês Lamine Diack, membro do COI (Comitê Olímpico Internacional) até 2013. Ele vive em Miami e está foragido. Sua sócia, Eliane Cavalcante, foi presa.
De acordo com as investigações, os recursos destinados à compra de voto no COI foram debitados de uma conta usada pelo ex-governador do Rio Sérgio Cabral para receber propina de Soares. O peemedebista recebeu, no total, US$ 10,5 milhões (R$ 32,75 milhões) do empresário, segundo as suspeitas.
A conta de Arthur Soares usada para pagar a propina foi aberta no banco EVG, em Antígua e Barbuda pelo doleiro Renato Chebar, que operava para Cabral. As empresas de “Rei Arthur” somaram ao menos R$ 3 bilhões em contratos com o governo do Estado.
Nuzman teve passaportes (diplomático e russo) apreendidos, junto com R$ 480 mil em espécie em cinco moedas diferentes na sua casa. Ele está impedido de sair do país, o que inviabiliza sua participação na próxima sessão do COI, em Lima, na quarta (13).
O Ministério Público Federal diz haver indícios de que Nuzman foi o responsável por fazer a ponte entre o esquema de corrupção no Estado do Rio com os membros do COI.
“Nuzman, como presidente do COB, foi o agente responsável por unir pontas interessadas, fazer os contatos e azeitar as relações para organizar o mecanismo do repasse de propinas de Sérgio Cabral diretamente a membros africanos do COI”, afirma o MPF. INVESTIGAÇÃO FRANCESA As suspeitas sobre compra de voto de Diack são públicas desde março de 2016, quando o jornal “The Guardian” revelou a investigação de promotores franceses. Há seis meses, o jornal “Le Monde” mostrou o repasse de US$ 2 milhões de Soares para uma conta de Papa Massata Diack, filho do dirigente senegalês.
Desde então, autoridades francesas e brasileiras trocam informações para detectar novos indícios.
De acordo com o MPF, o cartola e Soares viajaram para os EUA e a Europa no mesmo período ao menos seis vezes desde junho de 2008,um ano antes da eleição. A Procuradoria, contudo, não aponta se eles estavam juntos ou não.
A investigação afirma que foram feitos saques na conta do COB (Comitê Olímpico do Brasil) de R$ 1,4 milhão entre 2014 e 2015. Não há indicativo sobre os motivos das retiradas, feitas mais de cinco anos depois da escolha do Rio.
Eric Maleson, ex-presidente da Confederação Brasileira de Desportes de Gelo, afirmou a procuradores franceses que Ruy Cezar, secretário especial para os Jogos na gestão Eduardo Paes (PMDB), lhe deu a entender que houve pagamento a dirigentes africanos num encontro na Nigéria, em julho de 2009, com a participação de Nuzman.
Maleson disse ainda que o dirigente esportivo ganhou o passaporte russo em retribuição ao voto em favor de Sochi (Rússia) como sede da Olimpíada de Inverno de 2014. BLOQUEIO O juiz Marcelo Bretas determinou o bloqueio de bens de Nuzman, Soares e Cavalcante, para o pagamento de danos morais causados pelo “estigma à imagem do país”. O MPF pediu reparação de R$ 1 bi.
“É um vexame em termos internacionais com um evento sediado a custo de propina e corrupção”, afirmou o procurador Eduardo El Hage, coordenador da Lava Jato no Rio.
DO RIO
Os advogados Nélio Machado e Sérgio Mazzillo, que representam o presidente do COB (Comitê Olímpico do Brasil), Carlos Arthur Nuzman, afirmaram em nota que o dirigente declarou na Polícia Federal que “toda a jornada da Olimpíada do Rio, da candidatura à cerimônia de encerramento, foi conduzida dentro da lei e das melhores práticas financeiras, técnicas, operacionais, esportivas e de comunicação”.
Nuzman foi intimado a depor sob suspeita de ter atuado no pagamento de propina de US$ 2 milhões ao membro do COI (Comitê Olímpico Internacional) Lamine Diack e ao seu filho, Papa Massata, na disputa para escolha de sede dos Jogos de 2016, vencida pelo Rio.
O advogado Rodrigo Roca, que defende o ex-governador do Rio, Sérgio Cabral, afirmou que a suspeita de pagamento de propina “é uma acinte e um desmerecimento, não só ao ex-governador, como à vitória consagradora do Rio” na eleição.
“O Rio foi eleito com uma diferença de 40 votos com relação à segunda candidata, Madri. Pela versão do MPF seriam todos corruptos. Não tenho dúvidas de que em pouco tempo conseguiremos desmontar essa invenção”, disse o advogado. Na verdade, foram 34 votos (66 a 32).
De acordo com a Procuradoria, a propina para o membro do COI saiu de uma conta que era abastecida pelo empresário Arthur César de Menezes Soares Filho para Cabral. O peemedebista teria recebido, ao todo, US$ 10,5 milhões. A Folha não localizou a defesa de Soares.