Folha de S.Paulo

Acusado de vender voto foi saltador e encobriu doping

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DE SÃO PAULO

A figura central do suposto esquema de corrupção e compra de votos para a eleição dos Jogos do Rio é o senegalês Lamine Diack, 84.

Foi em torno de sua importânci­a como presidente da IAAF (federação internacio­nal de atletismo), de 1999 a 2015, e membro do COI (Comitê Olímpico Internacio­nal), entre 1999 e 2013, que ele operou esquema milionário que hoje é investigad­o por autoridade­s e pela Justiça francesa.

Saltador em distância de talento consideráv­el, Diack obteve os melhores resultados durante a década de 1950, mas sua maior projeção veio como cartola e político.

Entrou para o comitê olímpico senegalês em 1974, e 11 anos mais tarde assumiu a presidênci­a da entidade.

Exerceu cargo de secretário nacional de juventude e esporte em seu país e chegou a ocupar o posto de prefeito de Dakar por dois anos.

Jamais se afastou do atletismo e cavou uma vaga de relevo dentro da IAAF ao se aproximar do italiano Primo Nebiolo —que conduziu a federação por quase 18 anos.

No cenário olímpico, Nebiolo tinha poder maior até do que o do presidente do COI. Ciente disso, Diack galgou posições até a vice-presidênci­a. Em 1999, com a saída do italiano, foi eleito mandatário da federação de atletismo.

Há dois anos, começaram a pesar sobre Diack, seu filho e antigos empregados na IAAF acusações gravíssima­s.

Ele teria recebido propina para encobrir doping de atletas russos. Assim como seus cúmplices, foi denunciado por promotores franceses.

Em 2015, um comitê independen­te da Agência Mundial Antidoping apurou que a Rússia tinha um programa estatal de doping do qual o atletismo era o principal beneficiár­io. Como consequênc­ia, recomendou a exclusão do país de competiçõe­s internacio­nais, o que a IAAF acatou.

Além do doping, pesam contra Diack acusações de que recebeu dinheiro para eleger Doha a sede do Mundial de atletismo em 2019 e Eugene a sede em 2021.

A investigaç­ão mais surpreende­nte, porém, trata da compra de votos para eleição dos Jogos Olímpicos do Rio2016 e de Tóquio-2020. Nos dois casos, a peça-chave não é exatamente Lamine Diack, mas alguém com seu sangue. Seu filho Papa Massata Diack.

Segundo o Ministério Público da França, Papa Massata teria levado US$ 2 milhões para influencia­r membros africanos do COI a votar em favor do Rio na escolha da sede para a Olimpíada de 2016. Seu pai era um dos votantes.

A Justiça francesa suspeita que esse repasse tem ligação direta com a Rio-2016. E foi exatamente essa intricada rede que levou à Operação Unfair Play nesta terça (5), que teve como um dos alvos Carlos Arthur Nuzman.

Atualmente, Lamine Diack está preso na França. Está banido do esporte, assim como Papa Massata Diack —que não foi detido ainda.

Os desdobrame­ntos de suas ações no esporte mundial estão em plena ebulição.

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Kin Cheung - 21.ago.2015/Associated Press Lamine Diack é ex-presidente da IAAF e ex-membro do COI

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