Folha de S.Paulo

Estalos geniais

- TOSTÃO COLUNAS DA SEMANA segunda: Juca Kfouri e PVC, quarta: Tostão, quinta: Juca Kfouri, sábado: Mariliz Pereira Jorge, domingo: Juca Kfouri, PVC e Tostão

NAS ELIMINATÓR­IAS para a Copa de 2002, a Argentina, dirigida por Bielsa, foi muito superior aos adversário­s, como ocorre hoje com o Brasil. Os argentinos fizeram 43 pontos. O Brasil também pode chegar a 43. A Argentina atuava com três zagueiros e dois alas bem avançados, como pontas. O time propunha o jogo, como diz o atual futebolês. Bielsa bebeu na fonte de Menotti, campeão do mundo pela Argentina, em 1978, e de Rinus Michels, técnico da Holanda em 1974, que influencio­u Cruyff, treinador do Barcelona, que inspirou Guardiola, que influencio­u Sampaoli.

Todos esses técnicos gostam de atuar com três zagueiros, porque trocam um defensor por um meia ou atacante. O time fica mais ofensivo.

Cruyff conta que, 15 dias antes do Mundial de 1974, Rinus Michels disse que a equipe teria de fazer algo inusitado, ousado. Nascia o Carrossel Holandês. Onde estava a bola, havia muitos holandeses para recuperá-la. Era a pelada organizada. Muitos times tentaram fazer como a Holanda, sem sucesso, mas a ideia de pressionar quem está com a bola é cada dia mais atual, moderna.

Rinus Michels deve ter se inspirado em alguém, em alguma situação, que não sei qual é. Não foi na seleção brasileira de 1970, que não marcava por pressão. Teria Rinus Michels tido um estalo genial, tirado do nada? Muitos acontecime­ntos, que parecem originais, são resultados de fatos e situações anteriores, que não sabemos onde e quando surgiram. O conhecimen­to nasce de estudos, da imaginação, das influência­s, das associaçõe­s mentais e do acaso. Assim como a vida, o saber não é estruturad­o em normas, padrões, com um fim programado.

Muitos times atuais, como Chelsea, Arsenal, Alemanha, Bélgica, Argentina e Chile, têm jogado, de maneira habitual ou alternada, com três zagueiros e dois alas. Todas defendem e atacam com muitos jogadores. Cada equipe tem sua particular­idade.

Brasil e Colômbia nunca jogam com três zagueiros. A diferença tática entre as duas equipes é a de que o Brasil tem um trio no meio-campo, enquanto a Colômbia joga com dois volantes em linha e um meia de ligação pelo centro.

Foi uma partida equilibrad­a. O calor excessivo diminuiu a intensidad­e do jogo. A Colômbia fez o gol de empate em uma bola cruzada, lance que Falcao Garcia mais gosta, pois é ótimo no posicionam­ento e no cabeceio. Embora Neymar não tenha feito gols nem brilhado, como nos grandes momentos, saíram de seus pés os lances que resultaram em chances de gol, além do passe para Willian acertar um belo chute. Nas partidas mais difíceis, contra equipes do mesmo nível, o talento de Neymar será decisivo.

Clarice Lispector lamentava, em seus textos, de não saber o que estava atrás do pensamento. Neymar sabe. Antes de saber, faz. Como sabe? Sabendo. JOGO SUJO Lamentavel­mente, aumentam, a cada dia, as tentativas de enfraquece­r a Lava Jato. Com as cooperaçõe­s internacio­nais, a Operação chegou ao Comitê Olímpico Brasileiro, com as denúncias de compra de votos para o Rio sediar a Olimpíada, com as participaç­ões do ex-governador Sérgio Cabral e do presidente do COB, Carlos Arthur Nuzman. Falta chegar à CBF, apesar de a entidade não receber dinheiro público. Ex-presidente­s já foram investigad­os e denunciado­s pela Justiça dos EUA. Marín está preso, e Del Nero não sai do Brasil, com medo de ter o mesmo destino.

Assim como a vida, o saber não é estruturad­o em normas, padrões, com um fim programado

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