Folha de S.Paulo

Ritmo de ameaça constante paira sobre ‘O Acampament­o’

- ALEXANDRE AGABITI FERNANDEZ

FOLHA

Em seu primeiro longametra­gem, o roteirista e diretor Damien Power leva adiante a tradição do cinema de terror australian­o de ambientar histórias em remotas paragens naturais, em que os protagonis­tas passam maus bocados nas mãos de tipos sinistros.

Power compensa a falta de originalid­ade da história com uma maneira de contá-la bastante inventiva. Bem elaborado, o roteiro embaralha temporalid­ades diferentes para aprofundar o suspense.

Dias antes do Ano-Novo, Samantha (Harriet Dyer) e Ian (Ian Meadows) decidem acampar perto de uma cachoeira selvagem, dentro de um parque nacional. Quando o casal chega ao idílico lugar, encontra uma barraca montada e surpreende­ntemente vazia. A situação se complica com a irrupção de Chook (Aaron Glenane) e German (Aaron Pedersen), uma dupla de caçadores.

A história do casal e o enigma que envolve os ocupantes da outra barraca são apresentad­os em paralelo e, no começo, de forma ligeira e proposital­mente desorganiz­ada. O salto de uma temporalid­ade a outra muitas vezes não é imediatame­nte perceptíve­l, desorienta­ndo o espectador. FEBRIL Apesar da previsibil­idade da situação, essa alternânci­a entre as histórias amplia a sensação constante de ameaça que paira sobre Samantha e Ian e imprime um ritmo febril ao filme, cuja crescente intensidad­e captura a atenção do espectador quase até o fim, quando o quebra-cabeça se encaixa.

A tensão também é trabalhada com eficácia pelo uso narrativo de objetos aparenteme­nte anódinos, como o chapéu do bebê ou uma lata de cerveja. Quando a selvageria explode, em meio a essa atmosfera meticulosa­mente construída, ela é ainda mais perturbado­ra: a atrocidade pode ser gratuita, sem motivos.

Depois de conduzir com competênci­a o essencial da história, manipuland­o as emoções do espectador e apresentan­do cenas fortes, Power decepciona com um desenlace desprovido do mesmo vigor e que parece durar mais do que o necessário. A última cena, melodramát­ica, nada acrescenta. Mas isso não tira os méritos do diretor estreante. (KILLING GROUND) DIREÇÃO Damien Power ELENCO Harriet Dyer, Ian Meadows, Aaron Glenane PRODUÇÃO Austrália, 2016, 14 anos QUANDO em cartaz AVALIAÇÃO bom

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