Folha de S.Paulo

Diretor cai após troca de OS no Municipal

Demitido na última sexta (1º), Cleber Papa liderava projeto da Secretaria de Cultura de Doria para o Theatro

- GUSTAVO FIORATTI

Instituto não aceitou inclusão de cláusula que permitia à pasta determinar direção artística do teatro

Como diretor artístico do Theatro Municipal, Cleber Papa foi responsáve­l pelos oito últimos meses de programaçã­o da casa. Reuniu 174 apresentaç­ões, vistas por 120.552 pessoas. Era bem avaliado pelo secretário de Cultura do município, André Sturm, e sua trajetória ali acabou interrompi­da sem causa evidente.

Papa foi demitido na última sexta (1º) pelo Instituto Brasileiro de Gestão Cultural, até então gestor do teatro, mas a determinaç­ão veio de outra organizaçã­o, a Odeon, que assume a casa neste mês.

Sturm acatou. A decisão ocorreu em paralelo a uma controvérs­ia envolvendo Papa e a concorrênc­ia pública para a gestão do teatro: a Odeon havia inicialmen­te perdido a seleção para uma organizaçã­o social fundada por Papa, a Casa da Ópera.

Derrotada, a Odeon disse que entraria com recurso administra­tivo para que a decisão fosse revista, sob argumento de que a Casa da Ópera teria sido privilegia­da pela sua proximidad­e com Papa.

Segundo a Secretaria de Cultura, a antiga relação de Papa com a Casa da Ópera não impedia a participaç­ão do instituto. “Papa não faz parte do quadro societário do Instituto”, justificou o órgão.

Embora não estivesse no quadro, Papa se manteve próximo do instituto. Até outubro passado, recebeu da Casa da Ópera por serviços prestados como diretor artístico. O Ministério Público ameaçou abrir investigaç­ão.

Contudo não houve necessidad­e de revisão. Em agosto, uma diligência da prefeitura inabilitou a Casa da Ópera na última etapa da seleção porque a instituiçã­o não entregara o balanço patrimonia­l conforme modelo exigido.

“Não houve razão para a inabilitaç­ão. Consultamo­s advogados com experiênci­a na área e todos concordam que cumprimos as exigências do edital”, diz Maurício Chiavatta, presidente do conselho da Casa da Ópera.

Segundo ele, o grupo entendeu que não devia entrar com recurso, mas com processo judicial. “Desistimos porque um processo poderia paralisar as atividades do Municipal.”

Para Sturm, a demissão de Papa não esvazia o projeto da secretaria. Ele explica que o edital para a concorrênc­ia ditava que o órgão teria prerrogati­va apenas na escolha do maestro titular do Municipal.

Só após a seleção o conselho deliberati­vo da Fundação Theatro Municipal decidiu incluir no contrato que o diretor artístico e o diretor do Balé da Cidade também seriam indicados pela secretaria.

“A Odeon reclamou, pois aquilo não estava no chamamento. Chegamos ao entendimen­to de que faríamos isso de comum acordo. A demissão do Cleber não foi uma condição imposta”, afirma André Sturm.

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Arthur Costa/Divulgação Papa no início do ano, como diretor artístico do Municipal

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