Diretor cai após troca de OS no Municipal
Demitido na última sexta (1º), Cleber Papa liderava projeto da Secretaria de Cultura de Doria para o Theatro
Instituto não aceitou inclusão de cláusula que permitia à pasta determinar direção artística do teatro
Como diretor artístico do Theatro Municipal, Cleber Papa foi responsável pelos oito últimos meses de programação da casa. Reuniu 174 apresentações, vistas por 120.552 pessoas. Era bem avaliado pelo secretário de Cultura do município, André Sturm, e sua trajetória ali acabou interrompida sem causa evidente.
Papa foi demitido na última sexta (1º) pelo Instituto Brasileiro de Gestão Cultural, até então gestor do teatro, mas a determinação veio de outra organização, a Odeon, que assume a casa neste mês.
Sturm acatou. A decisão ocorreu em paralelo a uma controvérsia envolvendo Papa e a concorrência pública para a gestão do teatro: a Odeon havia inicialmente perdido a seleção para uma organização social fundada por Papa, a Casa da Ópera.
Derrotada, a Odeon disse que entraria com recurso administrativo para que a decisão fosse revista, sob argumento de que a Casa da Ópera teria sido privilegiada pela sua proximidade com Papa.
Segundo a Secretaria de Cultura, a antiga relação de Papa com a Casa da Ópera não impedia a participação do instituto. “Papa não faz parte do quadro societário do Instituto”, justificou o órgão.
Embora não estivesse no quadro, Papa se manteve próximo do instituto. Até outubro passado, recebeu da Casa da Ópera por serviços prestados como diretor artístico. O Ministério Público ameaçou abrir investigação.
Contudo não houve necessidade de revisão. Em agosto, uma diligência da prefeitura inabilitou a Casa da Ópera na última etapa da seleção porque a instituição não entregara o balanço patrimonial conforme modelo exigido.
“Não houve razão para a inabilitação. Consultamos advogados com experiência na área e todos concordam que cumprimos as exigências do edital”, diz Maurício Chiavatta, presidente do conselho da Casa da Ópera.
Segundo ele, o grupo entendeu que não devia entrar com recurso, mas com processo judicial. “Desistimos porque um processo poderia paralisar as atividades do Municipal.”
Para Sturm, a demissão de Papa não esvazia o projeto da secretaria. Ele explica que o edital para a concorrência ditava que o órgão teria prerrogativa apenas na escolha do maestro titular do Municipal.
Só após a seleção o conselho deliberativo da Fundação Theatro Municipal decidiu incluir no contrato que o diretor artístico e o diretor do Balé da Cidade também seriam indicados pela secretaria.
“A Odeon reclamou, pois aquilo não estava no chamamento. Chegamos ao entendimento de que faríamos isso de comum acordo. A demissão do Cleber não foi uma condição imposta”, afirma André Sturm.