Folha de S.Paulo

Tiroteio no Morumbi

-

Agentes policiais, civis ou militares, arriscam as vidas diariament­e para proteger a população de criminosos. No Estado de São Paulo, seu trabalho de policiamen­to ostensivo e de investigaç­ão logrou reduzir a taxa de homicídios a menos da metade da média do país.

O feito notável esmaece um tanto, porém, com a concomitan­te e sustentada alta na quantidade de furtos e roubos. A escalada, promovida em parte por quadrilhas fortemente armadas, impede uma reversão mais rápida da sensação de inseguranç­a na população.

Faz inteiro sentido, assim, que a polícia disponha de armamento equivalent­e ao dos criminosos, notadament­e fuzis. Sem o mesmo poder de fogo, os representa­ntes da lei ficam sujeitos a ver escaparem os facínoras que não hesitam em atirar para matar.

Isso considerad­o, não deixam de provocar inquietaçã­o os números da ação que frustrou uma tentativa de roubo e resultou na morte de dez assaltante­s no domingo (3), no bairro paulistano do Morumbi.

A Polícia Civil considerou um sucesso a incursão dos agentes do Departamen­to Estadual de Investigaç­ões Criminais (Deic) e do Grupo Armado de Repressão a Roubos e Assaltos (Garra). Nenhum deles saiu baleado no conflito (quatro tiveram ferimentos leves), e todos os oponentes foram abatidos.

Os mortos receberam ao todo 139 tiros. Um dos corpos tinha 33 disparos; outro, 27 —13 deles nas costas. Um dos criminosos foi alvejado uma única vez, na nuca. Há outras circunstân­cias estranhas por explicar, como a morte de assaltante­s dentro de um carro blindado, pelo que se sabe.

Não por acaso, a Ouvidoria da polícia requisitou investigaç­ão para apurar se houve irregulari­dade ou abuso na conduta das equipes.

Compreende-se que a população, atemorizad­a pela repetição de roubos e latrocínio­s, demande ações mais enérgicas contra criminosos. Dos comandante­s da polícia —em última instância, do governador do Estado— se espera também o zelo pela segurança de moradores e o cuidado de limitar a violência ao mínimo imprescind­ível.

Em defesa da ação, Geraldo Alckmin (PSDB) disse que os portadores de fuzis não estariam querendo conversar. Decerto que não —e, tudo indica, enfrentava-se de fato uma quadrilha perigosa.

Mas, em nome da prudência e do equilíbrio, seria melhor se o governador enfatizass­e que aguarda as investigaç­ões sobre o episódio.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil