Folha de S.Paulo

Problemas reais

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SÃO PAULO - Estou curioso para ler “Só Mais um Esforço”, livro que meu colega colunista Vladimir Safatle lança este mês, mas do qual a “Ilustríssi­ma” já antecipou trechos.

Dentre as muitas ideias que o autor apresentou nessa prévia, destaco uma que gostaria de explorar melhor. Safatle faz uma crítica da tecnocraci­a que, segundo ele, procura transmutar “uma guerra civil contra setores pauperizad­os” num discurso de racionalid­ade econômica, no qual medidas como a reforma da Previdênci­a são descritas como “remédio amargo, porém necessário”. Para o autor, a tecnocraci­a tenta pintar os que criticam sua lógica “como uma criança que crê na onipotênci­a do pensamento, incapaz de lidar com o princípio de realidade que ensina que só posso gastar o que ganho”.

Não discordo da tese geral de que com frequência setores da sociedade procuram revestir suas opções políticas de uma suposta universali­dade científica. Reconhecer isso, porém, não significa que não existam problemas técnicos de verdade que demandam solução. E a situação fiscal brasileira, eu receio, é um deles.

Proponho um experiment­o mental. O candidato do PSOL, ou mesmo Lula, venceu a eleição presidenci­al e, a partir do dia 1º de janeiro de 2019, terá um país e um orçamento para administra­r. A situação não é das mais tranquilas. Nossas despesas aumentam num ritmo superior ao das receitas e há uma regra, a do teto, que limita o cresciment­o das despesas do governo aos gastos do ano anterior corrigidos pela inflação. O que ele vai fazer para lidar com isso?

Só vejo três caminhos, ou se cortam despesas, notadament­e na Previdênci­a, que é onde o cresciment­o dos gastos ocorre de forma vegetativa, ou se aumentam as receitas (via impostos ou dívida), ou se deixa a inflação subir até ajustar as contas.

Seria importante que todos os candidatos dissessem honestamen­te como pretendem lidar com o problema, que, infelizmen­te, não é imaginário. helio@uol.com.br

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