Folha de S.Paulo

Terremoto mata ao menos 61 no México

Autoridade­s dizem ter sido o maior abalo em cem anos; os dois Estados mais afetados são os mais pobres do país

- MEMO BAUTISTA

Número total de mortos e prejuízo em regiões mais destruídas só deverão ser conhecidos nos próximos dias FOLHA

Embora fosse quase meianoite e a luz não ajudasse a ver direito, as caras das pessoas eram de observação. Quando a terra embaixo de seus pés começou a se mexer elas se transforma­ram.

Algumas se debulhavam em lágrimas, outras, de susto, estavam com olhos tão arregalado­s que pareciam sair do lugar, outras apertavam a boca para engolir os gritos de medo, mas não puderam evitar que o soluço escapasse.

Não era para menos. Às 23h49 desta quinta (7, 1h49 de sexta em Brasília) viveram um terremoto de magnitude 8,1 com epicentro em Pijijiapan, Chiapas. Pelo 61 pessoas morreram, mais de 200 ficaram feridas e, até a noite desta sexta (8), haviam sido registrada­s 459 réplicas, a maior com magnitude 6,1.

Foi inevitável não se lembrar do terremoto de magnitude 8 que os mexicanos sentiram na manhã de 19 de setembro de 1985 e que provocou mais de 10 mil mortes.

O desta quinta foi o maior abalo sísmico que atingiu o país nos últimos cem anos, disse o presidente, Enrique Peña Nieto. Na capital, caiu o viaduto que dá acesso ao local onde é construído o novo aeroporto e houve danos menores em 72 escolas públicas.

Os Estados que mais sofreram danos, porém, foram Oaxaca e Chiapas, os dois mais pobres do país. Segundo o coordenado­r nacional da Defesa Civil, Luis Felipe Puente, foram 45 mortos em Oaxaca, 12 em Chiapas e quatro no vizinho Tabasco. Outras 200 pessoas ficaram feridas.

Pouco após o primeiro tremor, chegou-se a registrar alerta de tsunami no litoral dos dois Estados e na costa pacífica entre a Guatemala e o Equador, que não se confirmou nas horas seguintes.

A maioria dos municípios atingidos em Oaxaca fica no istmo de Tehuantepe­c, uma das regiões de maior presença indígena no país e com grande produção de petróleo. Em Juchitán, onde morreram 36 pessoas, mais de 7.000 casas e metade do prédio da prefeitura foram destruídos.

“A situação em Juchitán é crítica; este é o momento mais terrível de nossa história”, disse a prefeita, Gloria Sánchez, depois do longo terremoto, que também abalou a Guatemala e El Salvador.

Em Tonalá, uma das cidades mais próximas ao epicentro, o governador de Chiapas, Manuel Velasco, estima que 700 escolas e 1.700 casas foram danificada­s em todo o Estado. “A prioridade para nós é levantar a destruição para recuperar e retirar as pessoas das áreas de risco.”

O governo local monta estrutura para abrigar os desalojado­s pelo terremoto. O Fundo Nacional para o Desenvolvi­mento Nacional (FONDEN) declarou emergência em Chiapas e de estado de desastre para 86 de seus 126 municípios, dando recursos emergencia­is para os trabalhos de recuperaçã­o.

As autoridade­s abriram centros de arrecadaçã­o de alimentos e roupas em todo o país. Países latino-americanos, como Colômbia, Peru e Venezuela, enviaram equipes e suprimento­s para as buscas pelas vítimas nos escombros.

O México fica entre cinco placas tectônicas e é um dos países que registra maior atividade sísmica no mundo. Desde então, o governo adotou regras mais rígidas para a construção e em relação aos planos de defesa civil e de treinament­o para a retirada rápida em caso de tremor. SUSTO Morando na capital há três anos, a administra­dora comercial brasileira Natália Zerbato, 26, já estava dormindo. Ela não ouviu o alarme sismológic­o e foi acordada por seu colega de quarto antes de sair do prédio em que mora.

“Senti o chão se mexer por aproximada­mente cinco minutos e usávamos as poças de água como referência para ver se o terremoto continuava ou não”, disse.

“Hoje, todos estávamos assustados, mas ao mesmo tempo aliviados ao perceber que a cidade se preparou para esse tipo de terremoto depois da tragédia de 1985.”

 ??  ?? Pessoas se reúnem em rua do centro da Cidade do México após terremoto
Pessoas se reúnem em rua do centro da Cidade do México após terremoto
 ?? Edgard Garrido/Reuters ?? Soldado trabalha em remoção de escombros em Juchitán; abaixo, moradores observam destruição em Matías Romero
Edgard Garrido/Reuters Soldado trabalha em remoção de escombros em Juchitán; abaixo, moradores observam destruição em Matías Romero
 ?? Victoria Razo/AFP ??
Victoria Razo/AFP

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil