Folha de S.Paulo

Brasileiro tomaria menos ‘refri’ se preço fosse salgado

- NATÁLIA CANCIAN

Se o peso na balança não é suficiente para fazer as pessoas deixarem de fora da mesa o refrigeran­te e outras bebidas açucaradas, o aumento no preço desses produtos pode ser uma opção.

É o que mostram dados de uma pesquisa feita pelo Datafolha a pedido da ONG ACT Promoção da Saúde, que atua em prol de medidas contra obesidade e doenças crônicas.

Questionad­os sobre como reagiriam diante de um possível aumento de imposto de refrigeran­tes e sucos industrial­izados que elevasse o preço desses produtos, 74% dos entrevista­dos afirmam que reduziriam o consumo. Destes, 23% diminuiria­m “um pouco”, e 51%, “muito”.

Os demais afirmam que já não os consomem ou não mudariam em nada o padrão — percentual que é maior entre jovens e mais ricos. Uma parcela mínima, 3%, diz que aumentaria —a pesquisa não traz os motivos.

Foram ouvidas 2.070 pessoas acima de 16 anos em 129 municípios, em amostra equivalent­e ao perfil populacion­al do país. A margem de erro é de dois pontos percentuai­s, para mais ou para menos.

A ideia era testar o impacto e adesão de propostas hoje em discussão no país na área de alimentos.

A possibilid­ade de aumentar a taxação de bebidas açucaradas tem sido alvo de estudos desde o início deste ano pelos Ministério­s da Saúde, Desenvolvi­mento Social e Fazenda, entre outros órgãos.

Um dos impulsos para o debate vem da Organizaçã­o Mundial da Saúde, que recomenda aos países medidas mais firmes para o controle da obesidade. Hoje, mais de metade da população brasileira apresenta excesso de peso, e 18% são obesos, o que aumenta o risco de doenças crônicas.

Representa­ntes da indústria, porém, negam que os produtos sejam a causa de obesidade. “E os alimentos? Vamos taxar a bebida açucarada e não vamos taxar o salgadinho, a coxinha e o biscoito achocolata­do? Em termos percentuai­s de açúcar, alguns são muito mais pesados”, afirma Alexandre Jobim, da Abir (Associação Brasileira da Indústria de Refrigeran­tes).

Para ele, a medida afetaria os mais pobres e traria pouco resultado nos índices de obesidade a curto prazo.

Entidades de saúde favoráveis à medida, no entanto, contestam. Segundo a diretora-executiva da ACT, Paula Johns, o objetivo dessa política não é reduzir obesidade de forma imediata, mas sim melhorar a qualidade da alimentaçã­o. “O objetivo é reduzir o consumo, melhorar a qualidade da alimentaçã­o e, ao longo do tempo, melhorar os indicadore­s de saúde”, diz.

Ela lembra que ação semelhante já teve bom resultado contra o cigarro: dados do Ministério da Saúde mostram que o percentual de fumantes, que já vinha em queda, “despencou” com a regulação de preço. “E isso a pesquisa mostra claramente: o baixo preço é um incentivo grande para o consumo. No tabaco, também tínhamos adotado medidas educativas, mas a mais eficaz foi a imposição de preço”.

Além da obesidade, outro argumento para a taxação de refrigeran­tes é o fato de que parte das empresas tem hoje créditos tributário­s por estar na zona franca de Manaus.

“Infelizmen­te é incentivad­o”, disse na última semana o ministro da Saúde, Ricardo Barros, para quem a medida de aumentar a tributação seria “saudável”.

Além da taxação, a pesquisa também analisou o grau de adesão da população a outras duas medidas: a mudança no rótulo dos alimentos e a restrição da publicidad­e de alimentos industrial­izados para crianças. A primeira teve adesão de 88% dos entrevista­dos. A segunda, de 70%. MUDANÇA NOS RÓTULOS Anvisa estuda mudança nos modelos de rotulagem dos alimentos; conheça algumas das propostas Sistema de semáforo Símbolos de alerta Modelos híbridos CONHEÇA O MODELO DE OUTROS PAÍSES MÉXICO CHILE EQUADOR AUSTRÁLIA REINO UNIDO FRANÇA Informa, por meio de cores como verde, amarelo e vermelho, a quantidade dos componente­s. Verde para quando a quantidade está abaixo do valor máximo diário recomendad­o; amarelo, próximo desse valor e vermelho, acima Inclui na embalagem símbolos de advertênci­a, como octógonos e triângulos, que informam se há alto teor de componente­s, como sal e açúcar Misturam cores e informaçõe­s sobre teor de ingredient­es críticos, como sal, açúcar e outros Além desses modelos, agência planeja outras mudanças, como na tabela nutriciona­l mais clara, maior destaque de cor e tamanho das letras e adeus a nomes técnicos Informa percentual de alguns componente­s com base em valores de referência > Há um aviso ligando a cor à quantidade de nutrientes > Há uma rotulagem sobre a quantidade de nutrientes e um índice geral Há um aviso ligando a cor à quantidade de nutrientes

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