Folha de S.Paulo

O MEIO DO REDEMOINHO

Em busca do sertão universal de Bia Lessa transmuta atores em plantas e animais em sua versão teatral de ‘Grande Sertão: Veredas’, trabalho que funciona como peça e também instalação

- SÁBADO, 9 DE SETEMBRO DE 2017 MARIA LUÍSA BARSANELLI DE SÃO PAULO MAURÍCIO MEIRELES

COLUNISTA DA FOLHA

Sertão é o sozinho. É onde o criminoso vive seu cristo-jesus. O sertão tem medo de tudo. É onde o pensamento da gente se forma mais forte do que o poder do lugar. O sertão está em toda parte, é do tamanho do mundo.

Com definições tão amplas, Guimarães Rosa mostrava que o cenário de seu “Grande Sertão: Veredas” (1956) não estava restrito a um só tempo ou espaço. A sua história do jagunço Riobaldo é também a história do homem.

É nesse sertão universal que a diretora Bia Lessa se inspira para sua versão teatral da obra, com estreia marcada para este sábado (9) em São Paulo —em janeiro, a montagem segue para o Rio.

Trata-se do retorno de Lessa ao teatro após quase dez anos longe dos palcos (ela fez seu “Exercício nº 2: Formas Breves” em 2009). Também é uma volta da diretora à obra rosiana: é da encenadora a exposição sobre o livro que abriu o Museu da Língua Portuguesa em 2006.

“Glauber [Rocha], de alguma forma, inventa um Brasil. O Euclydes [da Cunha] também. O Guimarães não fala no Brasil, apesar de ser brasileiro”, diz Lessa sobre as representa­ções do sertão na arte nacional. “Quando ele coloca que o sertão está dentro da gente, e o sertão está em toda a parte, ele quebra essa espinha dorsal [do Brasil] e vai para um outro lugar.”

Para o seu espetáculo, Lessa criou uma estrutura no espaço de convivênci­a do Sesc Consolação. A cenogra- fia de Camila Toledo (feita com colaboraçã­o do arquiteto Paulo Mendes da Rocha) é formada de andaimes, que lembram uma gaiola.

É nesse espaço que são alocadas as cadeiras do público e acontece toda a encenação. Em cerca de duas horas e meia de peça, vemos a saga de Riobaldo (Caio Blat), passando por seu amor reprimido por Diadorim (Luiza Lemmertz), as batalhas com os jagunços, sua sede de vingança contra Hermógenes (Leon Góes) e o pacto do protagonis­ta com o capeta. DISCRETO O palco é limpo, quase todo preto, assim como os figurinos, realçados apenas em alguns detalhes, como um tecido plissado que lembra cartucheir­as. A luz, discreta, quase não muda, e os dez atores nunca saem de cena. São acompanhad­os de 256 bonecos de pano, que vão inundando o palco como o exército de jagunços e o rio de corpos, vítimas daquelas guerras.

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Lenise Pinheiro/Folhapress Luisa Arraes (fundo) e Caio Blat, como o jagunço Riobaldo
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Roberto Pontes/Divulgação Leon Góes como Hermógenes em meio aos bonecos de pano

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