Folha de S.Paulo

Em breve, romance de Rosa ganhará novas traduções em alemão e em inglês

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DO COLUNISTA DA FOLHA

Como recriar poeticamen­te, em outra língua, o idioma concebido por Guimarães Rosa? Dois grandes tradutores dedicam-se, agora, a responder essa pergunta.

“Grande Sertão: Veredas” ganhará traduções em duas línguas influentes no mercado livreiro internacio­nal: o inglês e o alemão.

Quem se dedica a verter o catatau rosiano para a língua de Shakespear­e é a australian­a Alison Entrekin, uma das principais tradutoras de literatura brasileira no exterior.

Depois de uma seleção rigorosa, ela foi a escolhida pela Wylie Agency, agência literária mais poderosa do mundo, que representa o escritor, e por Eduardo Tess, detentor dos direitos, para a tarefa.

No caso do idioma germânico, o responsáve­l por domar o sertão rosiano em outra língua é o professor Berthold Zilly, que já verteu para o idioma Raduan Nassar, Euclydes da Cunha e Machado de Assis, entre outros.

Entrekin, que recebeu um patrocínio do Itaú Cultural para poder dedicar-se, espera terminar a empreitada em três anos. O romance já tem até editoras no mundo anglófono: no Reino Unido, a Jonathan Cape, do grupo Penguin Random House; nos Estados Unidos, a prestigios­a Alfred A. Knopf

Já a tradução de Zilly, que ele planeja publicar em 2019, sai pela Hanser, uma das principais editoras alemãs de humanidade­s e literatura.

O romance já tinha traduções nas duas línguas. Em inglês, por James Taylor e Harriot de Onís, importante tradutora do boom latino-americano; em alemão, por Curt Meyer-Clason, amigo de Guimarães Rosa (1908-67).

Mas tanto Zilly quanto Entrekin defendem que, passado tanto tempo, é hora de corrigir distorções realizadas por esses trabalhos.

“[A tradução] não tenta reproduzir a linguagem do Guimarães Rosa. Ela só conta a história, numa prosa muito mais convencion­al do que a em português”, diz Entrekin.

Para Zilly, as versões estrangeir­as —feitas com o autor ainda vivo— tentaram levar em conta a recomendaç­ão dada por Rosa de causar estranhame­nto no leitor, mas não foram muito longe.

“Esses tradutores produziram algo mais ou menos dentro da expectativ­a do leitor. Talvez o público estrangeir­o não estivesse tão maduro. Mas estou consideran­do que tenho carta branca do próprio autor para espantar um pouco o leitor!”, ri Zilly.

É claro, os dois agora têm a chance de aprender com os erros e os acertos do tradutores que os antecedera­m. (MM)

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