Folha de S.Paulo

GRANDE SERTÃO: VEREDAS

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Os expectador­es acompanham tudo munidos de fones de ouvido, que trazem, em cada uma das saídas, as falas dos atores, os sons daquele sertão e a trilha sonora criada por Egberto Gismonti. TRANSPOR Lessa chama de “transposiç­ão”, não de “adaptação” o que fez ao texto. Há cortes, mas ela coloca as palavras de Rosa na boca dos atores. Ainda quis levar à cena todos os elementos do romance. O narrador, que no livro se dirige a um visitante do sertão — tentando convencê-lo, e convencer-se, de que o Diabo não existe—, aqui fala ao público.

Os temas, diz ela, estão todos presentes: o amor, a morte, a guerra, a metafísica, os questionam­entos humanos.

Como a obra de Rosa trabalha com ambiguidad­es e incertezas (nem Riobaldo sabe ao certo se houve um pacto com o “Cramulhão”), Lessa quis reforçar a dúvida. A cena em que o protagonis­ta vende sua alma, por exemplo, é feita com o personagem falando sozinho, sem deixar claro se Diabo está ou não ali.

A imagem do “rio caudaloso” e o fluxo contínuo do livro, que não é dividido em capítulos, termina com um símbolo do infinito e tem a cronologia emaranhada, refletem-se numa montagem quase sem transições, com cenas sem divisões marcadas.

O vocabulári­o rosiano, repleto de neologismo­s e de uma sintaxe própria, está lá, mas cada ator fala com o seu próprio sotaque, não se busca um falar mineiro.

“Acho que, toda vez que você regionaliz­a, acaba empobrecen­do, limitando a própria obra”, afirma a diretora.

A natureza, outro personagem de “Grande Sertão”, é incorporad­a aos atores, que por vezes são plantas ou bichos — até os pés e as mãos dos bonecos são animalesco­s.

Além da montagem, a instalação onde a peça acontece ficará aberta para visitas nos horários em que não há sessão. Ali estarão expostos em televisore­s parte do processo de criação do espetáculo, edições de “Grande Sertão” e áudios a respeito da obra, além dos bonecos de pano, que também representa­m a morte de Diadorim.

“É um convite ao sertão, ao espaço metafísico da obra”, comenta a encenadora. QUANDO qui. a sáb. e feriado, às 20h30; dom., às 18h30; até 22/10 ONDE Sesc Consolação. r. Dr. Vila Nova, 245, tel. (11) 3234-3000 QUANTO R$12aR$40 CLASSIFICA­ÇÃO 18 anos INSTALAÇÃO a partir de 11/9, seg. a qua., das 11h às 21h30; qui. e sex., das 11h às 19h30; sáb., das 10h30 às 19h; grátis; livre

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