Folha de S.Paulo

Liniers publica seu 1º livro para crianças

Filhas do cartunista inspiram ‘Os Sábados São como um Grande Balão Vermelho’, sobre irmãs que celebram chuva

- BRUNO MOLINERO

‘Morar com crianças é como viver com gênios da comédia e do surrealism­o’, afirma quadrinist­a argentino

Se a vida vier com nuvens carregadas e uma tempestade cinzenta, é hora de vestir a capa de chuva e brincar nas poças de água até que o arcoíris apareça no horizonte.

O otimismo pode parecer exagerado, ainda mais em tempos de crise política, furacões destruindo cidades e o regime da Coreia do Norte atirando bombas a torto e a direito. Mas é a receita que o argentino Liniers transforma em desenhos coloridos em suas tiras —e também em seu primeiro livro publicado para crianças.

Previsto para chegar às livrarias do Brasil no próximo dia 15, traduzido pela V&R, “Os Sábados São como um Grande Balão Vermelho” é mais que uma pausa no noticiário tempestuos­o.

Aos adultos, pode ser um passaporte para os tempos de infância ou uma metáfora de que tudo tem o seu lado bom. Já para os pequenos, que costumam ser muito mais literais, um convite a levantar do sofá e efetivamen­te se divertir em um dia de chuva.

“Morar com crianças é como viver com gênios da comédia e do surrealism­o. Com Chaplin, Buñuel e Groucho. Nunca se sabe o que pode acontecer”, diz o cartunista, que vive nos Estados Unidos desde 2016 e é pai de três meninas, com idades de quatro a nove anos. Ele concedeu entrevista à Folha por e-mail.

As filhas serviram de inspiração para a história. Nela, duas irmãs não se abatem com o aguaceiro de um sábado e decidem brincar ao ar livre, devidament­e munidas de guarda-chuvas, capas e um jeito próprio e infantil de ver as intempérie­s.

Se um trovão ilumina o céu, elas logo celebram que mais pingos devem cair. Quando o toró aperta, é hora de ouvir se ele produz sons de aplausos. O arco-íris se torna sinal de que o fenômeno deve receber um presente especial: o tal balão vermelho que faz parte do título.

Mas sem cair em um tatibitate. “É importante não subestimar a criança. O fato de enxergarem o mundo de um ponto de vista mais baixo não as torna idiotas”, alerta Liniers, citando em seguida autores que conseguem esse equilíbrio, como Maurice Sendak (“Onde Vivem os Monstros”) e Roald Dahl (“A Fantástica Fábrica de Chocolate”).

Muito por causa disso, o livro encanta também os adultos. Sobretudo os fãs de “Macanudo”, tira publicada no jornal argentino “La Nación” desde 2001 e que conquistou fãs do mundo todo com um humor delicado e, muitas vezes, melancólic­o. Não à toa a exposição “Macanudism­o”, com quadrinhos originais do autor, passou pelo Brasil em 2015 e recebeu um público de mais de 100 mil pessoas.

Em 2018, Liniers deve ter traduzido também por aqui o livro “Escrito e Desenhado por Enriqueta”, protagoniz­ado por uma de suas principais personagen­s.

“Os fãs de ‘Macanudo’ geralmente têm uma ponte bem construída para a infância”, diz. Ou para um tempo em que tudo o que pode acontecer de ruim após uma chuva é um mero resfriado. AUTOR Liniers TRADUÇÃO Fabrício Valério EDITORA V&R QUANTO R$ 34,90 (48 págs.)

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Imagem de ‘Os Sábados São como um Grande Balão Vermelho’

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