Folha de S.Paulo

‹ Advogado afirma que jamais fez ‘jogo duplo’

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DE BRASÍLIA

O ex-procurador e advogado Marcello Miller reafirmou, em nota, que “jamais fez jogo duplo ou agiu contra a lei”. “Enquanto procurador, nunca atuou em investigaç­ões ou processos relativos ao grupo J&F, nem buscou dados ou informaçõe­s nos bancos de dados do Ministério Público Fede- ral sobre essas pessoas e empresas”, diz a nota.

Miller destacou que pediu para ser exonerado em 23 de fevereiro. “Nunca obstruiu investigaç­ões de qualquer espécie, nem alegou ou sugeriu poder influencia­r qualquer membro do MPF”.

O escritório Trench Rossi Watanabe afirmou que está auxiliando as autoridade­s e reiterou que os citados não trabalham mais na banca. Esther Flesch disse que o documento em questão é uma minuta, como se nota pelos campos em aberto no próprio documento.

Já em e-mail de 14 de fevereiro intitulado “sobre o caso que discutimos ontem”, Miller esclarece a Flesch detalhes técnicos sobre improbidad­e administra­tiva —como no tópico “1) improbidad­e administra­tiva da empresa no âmbito do financiame­nto do BNDES”.

A JBS é alvo de investigaç­ões envolvendo o banco.

O então procurador responde dúvidas sobre uma apuração do Ministério Público Federal em SP e tece comentário­s sobre o perfil de três procurador­es: “Nenhum deles tem reputação conspícua, seja por trabalhar demais, seja por querer aparecer demais”.

Para a PGR, há indícios de que Miller tenha cometido o crime de exploração de prestígio (previsto no artigo 357 do Código Penal, com pena de 1 a 5 anos e multa), além da possibilid­ade de ter sido cooptado pela organizaçã­o criminosa composta pelos executivos da JBS, “passando, em princípio, a integrá-la”.

Na semana passada, ao pedir ao STF (Supremo Tribunal Federal) a prisão dos delatores da JBS e também a de Miller, Janot mencionou os e-mails do ex-procurador.

“Há trocas de e-mails entre Miller e advogada do mencionado escritório, em época em que [ele] ainda ocupava o cargo de procurador da República, com marcações de voos para reuniões, referência­s a orientaçõe­s à empresa J&F e indícios de tratativas em benefícios à mencionada empresa”, escreveu.

O ministro do STF Edson Fachin negou o pedido de prisão de Miller. Somente os delatores da JBS tiveram prisão temporária decretada.

Em depoimento à PGR na quinta (7), um dos delatores da JBS, o executivo Ricardo Saud, relatou que recebeu orientação de Miller durante a elaboração do acordo de delação premiada da empresa.

“Miller ajudou a mostrar o caminho para passar ‘do lado do bem’ para não passar o resto da vida como ‘bandido’. [Saud] mostrou os anexos a Marcello Miller e ele disse ok”, relatou Saud.

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