Folha de S.Paulo

Funaro diz que Padilha monitorava possibilid­ade de ele fechar delação

Operador financeiro do PMDB acusa ainda advogado de Temer de ‘fiscalizar’ seu silêncio

- BELA MEGALE CAMILA MATTOSO REINALDO TUROLLO JR.

Em delação premiada, Funaro declarou ainda que tinha um pacto de silêncio com a JBS, em troca de pagamentos

O operador financeiro Lúcio Bolonha Funaro disse em sua delação premiada que o ministro Eliseu Padilha (Casa Civil) “ficou incumbido” de monitorar as chances de ele fazer um acordo com a Procurador­ia-Geral da República.

Segundo o depoimento que integra a colaboraçã­o de Funaro homologada pelo STF (Supremo Tribunal Federal), Padilha “valeu-se, para tanto, da sua amizade com os líderes dos escritório­s e causídicos que o defenderam”.

Funaro, implicado na investigaç­ão como operador do PMDB da Câmara, aponta Antônio Cláudio Mariz, Eduardo Ferrão e Danier Gerber, este último atual advogado de Padilha, como os criminalis­tas responsáve­is por ajudar no suposto monitorame­nto.

As declaraçõe­s do operador, hoje preso, integram o relatório da Polícia Federal na investigaç­ão da suposta quadrilha do “PMDB da Câmara”. O documento foi entregue na segunda (11) pela PF ao STF.

Funaro contou, segundo o relatório, que Mariz de Oliveira, hoje advogado de Michel Temer, comunicou o presidente sobre o interesse dele fazer acordo de delação.

Relatou que, no final de junho de 2016, pouco antes de ser preso, enviou por engano a Mariz de Oliveira uma proposta de honorários que era destinada a Figueiredo Basro, advogado de Curitiba especialis­ta em delação.

Funaro contou que logo depois recebeu uma mensagem do ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB), preso semana passada, por meio de um apli- cativo que destrói textos após a leitura, questionan­do-o se estava delatando.

Disse que negou a informação e perguntou a razão da indagação. Segundo o delator, Geddel afirmou que a notícia havia chegado no Palácio do Planalto.

Diante do fato, Funaro afirmou que percebeu que havia mandado a mensagem de forma equivocada para Mariz e que a informação havia sido passada a Temer, que acionou Geddel para sondá-lo. ‘PACTO DE SILÊNCIO’ Em sua delação premiada, Funaro também afirmou que fez “um pacto de silêncio” com o Joesley Batista, sócio majoritári­o da J&F, controlado­ra da JBS, “enquanto a família dele [Funaro] estivesse assistida”. A informação conta no mesmo relatório da PF.

Ele contou que, em dezembro de 2015, após ser alvo de buscas na operação Catilinári­as, Joesley propôs a ele um contrato de R$ 100 milhões para oficializa­r as dívidas que tinha com o operador sobre negócios lícitos e ilícitos e dar tranquilid­ade a Funaro.

Disse ainda que “a certeza de que Joesley iria honrar esses compromiss­os e manter a família do depoente segura financeira­mente trazia tranquilid­ade e que Joesley também se sentia seguro no sentido de que o depoente não tomaria nenhuma medida contra os interesse dele e seu grupo”.

O operador afirmou que Joesley lhe devia dinheiro e que, “caso os pagamentos fossem suspensos, o depoente iria ‘estourar ele’, ou seja, iria executar títulos de crédito contra o executivo na Justiça e ver se Joesley recuava; certamente o ânimo do depoente em delatar Joesley também aumentaria significan­temente”.

Funaro contou que o seu ânimo para fazer uma delação era monitorado pelo empresário e que ele mandava recados para tranquiliz­á-lo. Um deles chegou a ser entregue a uma advogado da JBS por sua irmã dentro de uma caneta Bic.

O delator disse que a realização dos pagamentos lhe dava segurança de que Joesley não iria fazer delação. No entanto, decidiu adotar a mesma estratégia depois de saber que o empresário havia seguido esse caminho.

Antes, Funaro afirmou que, embora tenha recebido valores da JBS, os pagamentos não tinham relação com “comprar o seu silêncio”. nesta terça-feira (12) ao STF (Supremo Tribunal Federal) que seja apurada uma suposta invasão à sua casa em São Paulo. Segundo a defesa, a invasão ocorreu no final da manhã do último dia 10, domingo. Três homens teriam entrado no terreno da casa da família Funaro, no Jardim Paulista, após pular o muro de um imóvel vizinho que, segundo os advogados, pertence ao empresário do ramo de carnes e também delator Joesley Batista.

Os desdobrame­ntos do acordo com a empresa

 ?? Jorge William/Agência O Globo ?? O ministro chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, durante evento nesta terça com sindicalis­tas e representa­ntes da indústria
Jorge William/Agência O Globo O ministro chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, durante evento nesta terça com sindicalis­tas e representa­ntes da indústria

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