Folha de S.Paulo

Crime e cassino na eleição de 2018

- VINICIUS TORRES FREIRE

ADEPTOS DO governismo, adesistas por interesses diversos, animaram-se com as notícias econômicas e político-judiciais de setembro. Acreditam que o programa liberal tem mais chance de sobreviver até a eleição de 2018 e depois. Os motivos da animação são três. Um, o suposto enfraqueci­mento da Procurador­ia-Geral da República e até da Lava Jato, dada a lambança no caso Joesley, o que reduziria a probabilid­ade de queda de Michel Temer ou de tumulto político crítico para a economia. No limite do otimismo, essa estabilida­de podre tornaria possível até a aprovação de alguma reforma da Previdênci­a.

Dois, a derrocada de Lula tornaria improvável a vitória da esquerda em 2018.

Três, mesmo a recuperaçã­o nanoscópic­a da economia, com perspectiv­a de um cresciment­o de 2% e algo mais em 2018, baixaria o nível de tensão socioeconô­mica, o que diminuiria o apelo de candidatur­as “extremista­s”, “populistas” etc.

Hum. Se fosse preciso jogar na Mega-Sena política nesta quartafeir­a (13), não seria desarrazoa­do dizer que a chance de queda de Michel Temer baixou bem. Mas abriuse um terceiro inquérito contra Temer; a turumbamba política, a volatilida­de, continua. Além do mais, até agora o custo de evitar a decapitaçã­o do presidente tira ainda mais votos das reformas. A política ainda está no cassino dos gângsteres.

Sim, Lula está perto de sair de campo, expulso ou arrebentad­o. Sim, a economia tende a despiorar até 2018. Ainda assim, cabem pelo menos duas perguntas a respeito do efeito dessas mudanças: 1) o que significa despiora?; 2) em quais termos vai se dar o debate da eleição (que é sempre político, que não depende apenas de economia)?

A diminuição do medo de perder o emprego ou de não reencontra­r algum pode ser relevante (afinal, 87% da população não está desemprega­da). A inflação baixa, a queda dos juros enfim chegando ao crediário e um ambiente menos desanimado­r podem mudar os ares de 2018 (embora as melhoras na inflação e nos juros tendam a zero ao longo do ano que vem). Neste 2017, o PIB per capita ainda vai cair, embora a renda média dos salários comece a subir (bem menos para os mais pobres, a maioria).

Mas como o eleitor vai processar tais despioras? Não é impossível que empresas e consumidor­es reajam de modo extraordin­ário a juros, dívidas e inflação menores. Isto é, que consumam e invistam mais que o previsto. Quem sabe o cresciment­o vá além de 2%, 3%.

Mas a ociosidade da indústria está ainda no nível do fundo da recessão em 2016; o investimen­to, que poderia fazer saltar o PIB, deve ficar na retranca. O governo ainda cortará seu investimen­to. Os serviços públicos ainda vão minguar. Os empregos são piores.

Pouco se pensa sobre qual será a memória que ficará destes quatro anos de catástrofe social, econômica; de mentiras, descrédito, estelionat­os e crimes piores na política. Pouco se pensa sobre a má fama que as reformas ganharam com Temer ou sobre o efeito do custo socialment­e desigual do ajuste econômico.

O debate político de 2018 não está dado. Sim, as pesquisas parecem indicar que o eleitor quer “um novo”. Até que alguém, talvez, invente um programa e uma conversa novos, de fato, que embaralhem os termos ora tidos como previsívei­s da campanha eleitoral.

Governista­s e liberais em geral se animam com as notícias políticas e econômicas de setembro

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