Para o ouvidor da Polícia
único disparo em área vital.
“Quando vai realizar um disparo, a ideia é que uma só vez seja o suficiente. Com uma 380, com um 38 ou um 32, pode ser que o cara tome o tiro e ainda continue avançando para cima de você. A probabilidade de ele parar no primeiro disparo com uma pistola 9 mm é quase de 100%”, afirma o tenente-coronel da reserva da PM.
O oficial, especialista em armamentos, diz que o fato de essa pistola ser mais perfurante em comparação com uma de calibre .40, por exemplo, não significa que a população será colocada em uma situação ampliada de risco.
“Se for usar indevidamente uma arma, pouco importa o calibre. O importante é a habilidade de quem a manuseia”, defende Lemos. PODEROSO de São Paulo, Júlio César Fernandes Neves, essa liberação é equivocada e pode provocar mais mortes de pessoas pelos policiais. “Onde se deveria dificultar, estão, na verdade, facilitando. Isso é um estímulo para o aumento da letalidade policial. Porque um policial com uma arma dessas vai se sentir mais poderoso e com mais facilidade para tirar a vida de alguém”, afirma.
O ouvidor disse concordar com o uso de armas por policiais nos horários de folga, mas não com o calibre tão potente. “Não precisavam liberar uma arma capaz de matar duas, três pessoas de uma vez só.” Para ele, uma alternativa poderia ser inclusive a difusão de armas não letais.
Já o especialista em armas Lincoln Tendler, responsável pela revista “Magnum”, diz ver como benéfica a liberação do armamento aos policiais porque a 9 mm é uma pistola de mais fácil manuseio.
“Interfere também na segurança da população porque, quando ele está à paisana, indo para casa, dormir, após o serviço, ele tem como proteger a ele e a terceiros.”
Em São Paulo, a arma padrão da PM é a pistola .40, desenvolvida há mais de 20 anos para atender à polícia federal americana, o FBI, e adotada por boa parte das forças policiais de países das Américas.
A polícia dos EUA, no entanto, está abandonando o calibre .40 após registrar caso em que não conseguiu parar imediatamente um atirador mesmo após atingi-lo cinco vezes no peito e uma no abdômen —usou depois um fuzil para matar o agressor.
Após realização de testes, decidiu retomar o uso da 9 mm pela maior eficiência desse calibre na transfixação do alvo. Está adotando, agora, uma munição especial para aumentar poder de impacto (sem perder a perfuração).
A Polícia Federal brasileira também utiliza a 9 mm. SUPERIORES Procurada, a Secretaria da Segurança Pública do governo de São Paulo informou que a compra de armas por policiais paulistas é mediada “diretamente pela Polícia Federal” e “a utilização de armas pessoais em serviço, tanto por policiais civis quanto militares e técnico científicos, pode ser feita mediante autorização dos superiores”.
“Atualmente, as portarias internas dos comandos das polícias não preveem a utilização de armas 9 mm, por ser uma decisão recente do Exército”, afirma a nota.
Pela portaria publicada pelo Exército, os policiais só podem comprar as pistolas da indústria nacional —que se resume a Taurus e Imbel.
“A portaria nº 967 autoriza a aquisição de armas de fogo, de uso restrito, na indústria nacional, uma vez que a mesma já fabrica diversas armas no calibre 9 mm, não possibilitando a importação”, diz resposta do Exército à Folha.