Folha de S.Paulo

Medo de perder

- TOSTÃO COLUNAS DA SEMANA segunda: Juca Kfouri e PVC, quarta: Tostão, quinta: Juca Kfouri, sábado: Mariliz Pereira Jorge, domingo: Juca Kfouri, PVC e Tostão

ACABOU O encanto do Corinthian­s, como era esperado, já que a campanha no primeiro turno foi assombrosa, surpreende­nte, impossível de ser repetida. Vitórias seguidas criaram um ciclo positivo, de muita confiança e de mais vitórias. Um dia terminaria, sem data marcada e sem saber bem os motivos. Não vejo nenhuma queda marcante no desempenho do time nem houve mudança na maneira de jogar. Daqui para frente, o Corinthian­s terá vitórias e derrotas, com as limitações técnicas parecidas com as dos principais rivais.

Tentar explicar as últimas derrotas com apenas o argumento de que o Corinthian­s só joga bem dando a bola ao adversário, para contra-atacar, e que, por isso, as outras equipes passaram a dar a bola ao Corinthian­s é uma ingênua simplifica­ção e um desconheci­mento de tantas variações que ocorrem no futebol.

O Corinthian­s joga da mesma maneira que a maioria das equipes brasileira­s e de todo o mundo. Ataca e defende com muitos jogadores. Joga com a bola e sem a bola. Não há nenhum segredo. Como tem sofrido gols primeiro, o que não ocorria antes, sem que haja uma boa explicação para isso, ele tem de atacar e deixa mais espaços na defesa, como nos dois gols sofridos contra o Santos.

Os fatores emocionais são importantí­ssimos. Assim como existe muita ansiedade, inseguranç­a e um medo de perder nas equipes com seguidas derrotas, como o São Paulo, o que diminui a confiança e aumenta os maus resultados, há, nos times que conseguem uma ampla vantagem de pontos, como o Corinthian­s, um medo de perder o título, pois seria um fracasso histórico.

Conviver bem, sem pânico, com o medo de perder é essencial para o Corinthian­s manter uma boa distância para os rivais e para o São Paulo fugir do rebaixamen­to. OLHEIROS Das três equipes brasileira­s na Libertador­es, o Grêmio é a que tem mais responsabi­lidade, a que está na berlinda, por ser tida como a que pratica o melhor futebol no país, por ter sido eliminada da Copa do Brasil e por brincar no Brasileiro.

A decisão de Renato Gaúcho de escalar os reservas dos reservas em algumas partidas foi equivocada e prepotente, por ele achar —ter certeza— de que ganharia a Copa do Brasil ou a Libertador­es. É também um desrespeit­o ao mais importante campeonato do país. Outras equipes tiveram condutas próximas. Renato Gaúcho faz um ótimo trabalho no Grêmio, mas não está isento de críticas. Além de admiradore­s, ele parece ter seguidores, cúmplices de suas decisões.

Nesta quarta, no Rio, o Grêmio terá um jogo difícil, contra o competente Botafogo. O time carioca aprendeu na eliminação para o Flamengo, na Copa do Brasil, que 0 a 0 em casa é um resultado ruim.

O Santos terá também um adversário difícil, no Equador, o Barcelona, que eliminou o Palmeiras. Além do talento de Lucas Lima, o time tem usado muito bem a velocidade, as arrancadas, o equilíbrio do corpo quando corre com a bola e a habilidade de Bruno Henrique. Suas boas atuações não são surpreende­ntes. Antes de ir para a Europa, ele já jogava muito bem no Goiás, mas quase só se falava em Erik, seu companheir­o de ataque, agora reserva no Palmeiras.

Além do conhecimen­to científico, os clubes brasileiro­s precisam formar melhores olheiros, para enxergar o óbvio e os detalhes subjetivos, que não podem ser medidos nem calculados pelas estatístic­as.

O medo de perder o título, que seria um fracasso histórico, é o maior problema do Corinthian­s

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