Folha de S.Paulo

Trump quer pressionar Temer a tomar medidas contra Venezuela

Decisão do Panamá de exigir visto a venezuelan­os seria exemplo de ação que atinge Maduro

- ISABEL FLECK

Washington diz que Brasil deve ter papel na resolução da crise e se mostra cético em relação a ação da OEA

No jantar que terá com o presidente Michel Temer na próxima segunda (18), o presidente dos EUA, Donald Trump, espera ouvir do homólogo propostas de ações que o Brasil possa tomar para pressionar mais Caracas.

Além de Temer, estará no encontro o presidente colombiano, Juan Manuel Santos, e, possivelme­nte, o peruano Pedro Pablo Kuczynski.

Segundo um alto funcionári­o do governo americano, os EUA reconhecem os esforços feitos pelo Brasil até agora, como sua atuação na suspensão da Venezuela do Mercosul e na reunião de agosto em Lima, quando 12 países concordara­m em não aceitar decisões tomadas pela Assembleia Constituin­te convocada por Maduro. No entanto, Trump quer que outros países de peso na região, como Brasil, tragam para a mesa “as ações mais eficientes que possam tomar”.

“Adoraríamo­s ver o presidente Temer vir preparado para discutir mais ações que o Brasil poderia tomar”, disse o alto funcionári­o à Folha. A ideia é que sejam ações que possam impactar o regime de Maduro, com o objetivo de restaurar a democracia, segundo o representa­nte do governo Trump.

“Não há dúvida de que o Brasil pode ter um grande papel, e o presidente Trump está muito interessad­o em ver o presidente Temer se pronunciar sobre isso.”

Um dos exemplos de ações citado é o do Panamá, que recentemen­te estabelece­u a obrigatori­edade de visto a venezuelan­os —com exceção para quem chegar ao país como refugiado. Na visão do governo americano, esse foi um movimento inteligent­e, que tem um impacto sobre pessoas próximas a Maduro, de dentro do governo.

Para Trump, o motivo do jantar com os três presidente­s sul-americanos é a crise na Venezuela, mas nada impede que temas bilaterais, como comércio ou cooperação em defesa, sejam tratados. A expectativ­a, porém, é que não haja tempo para transpor o tema principal.

Os EUA tentam minimizar o fato de o vice-presidente, Mike Pence, não ter visitado o Brasil em seu tour recente pela América Latina, quando o assunto dominante foi a crise venezuelan­a. Segundo o alto funcionári­o, o país ainda é visto como importante líder na região. Pence passou por Colômbia, Argentina, Chile e Panamá. DIÁLOGO O governo americano é cético com as recentes declaraçõe­s do ditador venezuelan­o, Nicolás Maduro, de que está disposto a se engajar no diálogo com a oposição mediado pela República Dominicana e pelo ex-chefe de governo espanhol José Luis Rodríguez Zapatero (leia ao lado).

Para o governo Trump, só é “razoável” sentar à mesa com Maduro depois que Caracas demonstrar boa vontade em negociar, libertando presos políticos, estabelece­ndo um cronograma para eleições nacionais e respeitand­o a Constituiç­ão. A visão de Washington é que não se deve permitir que Maduro use mais uma vez o diálogo como tática para ganhar tempo.

O movimento para convencer países da região a pressionar Maduro se deve, em parte, à decepção dos EUA com a Organizaçã­o dos Estados Americanos. Desde o início, o governo Trump defendia que a solução para a crise da Venezuela passasse pelo organismo. No entanto, a falta de apoio dos países caribenhos travou grande parte das decisões na OEA.

“A OEA continua sendo um veículo que apoiamos e que esperamos que nos apoie, mas não vamos parar de avançar porque há problemas estruturai­s na organizaçã­o”, disse o funcionári­o, ressaltand­o que os países que travaram as ações possuem menos de 10% da população da região.

 ?? Joaquín Hernández/Xinhua ?? Funcionári­o do aeroporto José Martí, em Havana, recebe colchões doados a Cuba após furacão Irma pelo governo da Venezuela, que enfrenta escassez
Joaquín Hernández/Xinhua Funcionári­o do aeroporto José Martí, em Havana, recebe colchões doados a Cuba após furacão Irma pelo governo da Venezuela, que enfrenta escassez

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