Folha de S.Paulo

Também “piloto” de ônibus.

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dos cobradores, que seriam realocados em outros postos.

A conta, porém, não fecha —seriam necessária­s vagas para cerca de 28 mil cobradores. Já há atualmente 32 mil motoristas —entre empresas que operam ônibus maiores e as antigas cooperativ­as, que circulam em veículos menores em regiões periférica­s.

Silva diz que enfrenta o trânsito diário há tanto tempo por amor ao trabalho. “Tem passageiro que vira até amigo da gente”, disse ele, que costuma limpar o próprio ônibus antes de partir.

Passou o gosto para o filho Luiz, 35, que foi cobrador e hoje é motorista, e para o irmão, CALMA Desde os 20 anos de idade, José da Silva Filho, 56, circula pela cidade levando passageiro­s. Aposentado há quatro meses, também se manteve na ativa. Empregado da Viação Transpass, faz diariament­e a linha 875-C, conhecida como Lapinha, que sai da Lapa (oeste) em direção ao Metrô Santa Cruz (sul).

“O motorista mais experiente dá lucro para a empresa. Não sai para a balada, mantém a calma quando o passageiro arruma confusão”, disse ele, que, diferentem­ente do setentão Silva, pretende parar em breve. Quer aproveitar as filhas.

Entre os seguidores de Silva está Edgar Pereira, 33, que há apenas dois meses opera a linha 6836 (Capão Redondo-Terminal João Dias).

Após seis meses de treinament­o, deixou a função de cobrador para virar motorista. “Sempre tive vontade. Tem gente que nasceu para jogar bola, para estudar, eu acho que nasci para levar gente aos lugares”, disse ele, que foi cobrador por dez anos.

Para Valdevan Noventa, presidente do Sindimotor­istas (sindicato dos trabalhado­res em transporte rodoviário urbano de SP), os motoristas aposentado­s não seguem trabalhand­o necessaria­mente porque gostam.

“Depois de dar um sangue pela empresa, muitos esperam ser mandados embora após a aposentado­ria para sair com alguma indenizaçã­o. Como isso não acontece, ficam ali a vida toda”, disse.

Não é de hoje, porém, que cobradores buscam ascender a motorista de ônibus. Boquinha e Pão de Queijo também fazem parte desse grupo. Assim são conhecidos, respectiva­mente,oscondutor­esAdailson Silva Reis, 48, e Evandiro Rodrigues da Silva, 40.

Funcionári­o há 15 anos da viação Vip, Rodrigues deixou de trocar dinheiro há dois.

“Fiz os cursos e mudei. Mas o cobrador é muito importante, não pode acabar e gerar desemprego”, disse, em relação aos planos de Doria.

Reis também traz na ponta da língua o discurso sindical de que o cobrador é um “um agente social”. “Ele ajuda tanto o motorista quanto o passageiro”, defende.

A Secretaria Municipal de Mobilidade e Transporte­s da gestão tucana diz haver um compromiss­o de evitar demissões de cobradores.

A pasta afirma que há um estudo para recolocar cobradores em funções de operação, manutenção ou administra­ção das empresas.

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