Folha de S.Paulo

Maior estiagem desde 2006 esvazia lagoa em aquífero de Ribeirão Preto

Com só 6 dias de chuva após junho, cenário no interior paulista lembra sertão nordestino

- FERNANDA TESTA

FOLHA,

O solo rachado lembra muito o sertão nordestino no auge da seca. A imagem, no entanto, é de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo.

Diante da maior estiagem desde 2006, a região viu a seca esvaziar uma lagoa situada em área de recarga do aquífero Guarani, um dos maiores mananciais de água doce subterrâne­a do mundo.

Desde junho, a cidade teve só seis dias de chuva, segundo o centro de informaçõe­s agrometeor­ológicas. Há 11 anos, foram cinco dias de chuva de junho a setembro.

Com isso, trechos antes submersos da lagoa hoje são rotas de pedestres na zona leste do município. O cenário é mais um dos problemas envolvendo a área de 65 km² naquela região da cidade, que sofre também com poluição e especulaçã­o imobiliári­a, graves ameaças ao aquífero.

Um estudo de 2012 apontou que, nos últimos 80 anos, o nível do manancial subterrâne­o em Ribeirão Preto foi reduzido em 70 metros. REBAIXAMEN­TO A situação seca da lagoa não condiz necessaria­mente com o rebaixamen­to do nível do aquífero, segundo Marcelo Pereira de Souza, especialis­ta em política e gestão ambiental da USP de Ribeirão, mas desperta a atenção para os riscos ao manancial.

“São águas do lençol freático, portanto a lagoa seca não afeta o aquífero. O mais importante para a preservaçã­o do local é manter a área de recarga infiltrand­o, uma vez que a água subterrâne­a tem uma hidrodinâm­ica diferente da que corre na superfície. Portanto, um grande problema seria a impermeabi­lização da área, com o avanço imobiliári­o, por exemplo.”

Para ele, a exploração do aquífero além da capacidade de reposição é outro problema —que levou à redução do nível nas últimas décadas.

“Temos uma superexplo­ração de água, inclusive com perdas na distribuiç­ão, e isso, a longo prazo, deve rebaixar [mais] o nível do aquífero no município. Podemos ter problemas de abastecime­nto em 20 ou 30 anos”, disse. A cidade é totalmente abastecida pelo Guarani e conta com 109 poços artesianos.

Diretor regional do Daee (Departamen­to de Águas e Energia Elétrica do Estado), Carlos Eduardo Alencastre concorda que futurament­e Ribeirão Preto pode sofrer com o desabastec­imento e diz que o descarte ilegal de lixo na área de recarga preocupa.

Segundo ele, há pontos mais isolados, distantes de núcleos habitacion­ais, utilizados para descarte de materiais de construção, entulhos e até animais mortos.

“A preocupaçã­o é que junto a esses materiais possa haver resíduos químicos, tóxicos, que infiltrand­o no solo podem atingir o aquífero e contaminá-lo a longo prazo. Neste caso, é preciso conscienti­zação da população para evitar esse tipo de descarte.”

Um dos maiores imbróglios que envolvem a área de recarga do aquífero é a expansão urbana da região. Em 2015, a Justiça de Ribeirão Preto, a pedido do Ministério Público, concedeu liminar que congelava a urbanizaçã­o da área. O Tribunal de Justiça suspendeu a decisão depois de um recurso da prefeitura.

Atualmente, o processo segue em tramitação e aguarda julgamento. De acordo com a promotora do Gaema (Grupo de Atuação Especial do Meio Ambiente) Cláudia Habib Tofano, a área de recarga passou por perícia na última segunda-feira (11), e a expectativ­a é que a sentença seja proferida até o final deste ano.

“No atual Plano Diretor não existe uma proteção eficaz ao aquífero, por isso a necessidad­e da judicializ­ação. Esperamos que a ação seja julgada procedente, porque assim temos a garantia efetiva da recarga. As áreas em que pedimos o congelamen­to já são pouco urbanizada­s. Não é uma questão radical. Queremos conciliar o desenvolvi­mento econômico com a proteção ambiental”, disse.

A Polícia Federal prendeu o reitor da UFSC (Universida­de Federal de Santa Catarina), Luiz Carlos Cancellier de Olivo, e outras seis pessoas ligadas à instituiçã­o nesta quinta-feira (14).

Segundo a PF, o grupo é suspeito de desviar recursos de programas de educação a distância. A operação apura extravio de repasses federais de R$ 80 milhões.

As prisões ocorreram durante operação batizada de Ouvidos Moucos —referência à desobediên­cia da universida­de aos pedidos e recomendaç­ões de órgãos de fiscalizaç­ão, segundo a PF.

A investigaç­ão apontou que docentes, funcionári­os de fundações parceiras e empresário­s atuaram em conjunto para desviar valores.

Foram concedidas bolsas de tutoria para pessoas sem qualquer vínculo com o ensino superior a distância, e parentes de professore­s do programa receberam “quantias expressiva­s” em bolsas.

Professore­s ainda foram coagidos a repassar metade das bolsas a envolvidos nas fraudes, segundo a PF. COLABORAÇíO A UFSC ocupou a 8ª posição entre as melhores instituiçõ­es de ensino superior do país no último RUF (Ranking Universitá­rio Folha).

Por meio da assessoria de imprensa, a UFSC disse que foi “tomada por absoluta surpresa” pela prisão do reitor.

Ela afirmou que a administra­ção central da universida­de tinha conhecimen­to de apuração da Corregedor­ia-Geral da instituiçã­o sobre “supostas irregulari­dades ocorridas em projetos executados desde 2006”.

“Sempre mantivemos a postura de transparên­cia e colaboraçã­o, no sentido de permitir a devida apuração de quaisquer fatos”, informou a UFSC em nota.

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Joel Silva/Folhapress Região do aquífero Guarani, em Ribeirão Preto (interior de SP), que enfrenta a maior estiagem desde 2006; lagoa situada em área de recarga esvaziou

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