Folha de S.Paulo

Deles”, afirma.

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para trabalhar”, reclama ela.

Agressões não são o único problema enfrentado pelas professora­s mulheres. Luciana (nome fictício) registrou queixas de outra ordem.

Ela dá aulas de educação física em uma escola pública da periferia de Campinas (interior de São Paulo) e prefere não ser identifica­da.

Conta que, no início do ano, alunos começaram a assediá-la. Ela passou de sala em sala e pediu respeito. Um mês depois, viu seu carro inteiro riscado de “canetão”, com palavras como “gostosa” e desenhos obscenos. Até hoje não se sabe quem foi o autor —o que significa que ninguém foi punido.

Educadora da rede municipal, Silvana Ferreira, 32, foi alvo de outro crime, também dentro da escola, uma unidade da rede municipal em Cidade Tiradentes (zona leste).

Bandidos entraram no fim do dia, trancaram os professore­s em uma sala e levaram todos os pertences. “A gente até espera ser abordado na rua, mas não no seu local de trabalho”, afirma. CONSEQUÊNC­IAS Ainda que graves, poucos casos se comparam ao de Maria (nome fictício), que pediu para não ser identifica­da.

“Rodo nela”, escreveu em

BERNARD CHARLOT

professor aposentado da Universida­de Paris 8

WILSON LEVY

chefe de gabinete da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo uma rede social um aluno de 16 anos após dar uma rasteira nela, em uma escola na zona leste de São Paulo.

O ataque aconteceu após uma discussão sobre o registro da nota do estudante.

Pega de surpresa pela rasteira, Maria caiu, bateu a cabeça e ficou mais de cinco minutos desacordad­a. No chão da escola estadual na zona leste de São Paulo, teve convulsões e ficou três dias em observação na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) de um hospital, com a costela trincada.

Hoje, está bem de saúde. Mas tem medo e, com medo, não é mais a mesma na sala de aula, diz. “A minha matéria [matemática] não é a do professor mais bonzinho. A gente precisa de atenção, disciplina, que os alunos façam o exercício”, afirma.

“Mas não consigo mais ter a mesma autoridade. Se um aluno falasse que não ia fazer algo, antes eu insistia. Agora eu só respondo: ‘tá’ bom.”

Seu caso, ocorrido no fim do ano passado, causou comoção na rede estadual. Professore­s de diversos colégios foram trabalhar vestidos de preto. Alunos fizeram protestos e homenagens à professora. Em um dos cartazes, liase: “professore­s desmotivad­os, alunos prejudicad­os”.

A reação revela duas caracterís­ticas da violência escolar.

A primeira é que, ao contrário do que podem dar a entender números alarmantes, os atos são praticados e tolerados por uma minoria. “Os casos que ocorrem são muito graves, mas não significa que a escola virou um lugar onde predominam o medo e os ataques”, diz Alves, do NEV/USP.

A segunda caracterís­tica é que, se os agressores são minoria, as consequênc­ias de seus atos atingem toda a escola. Aulas são interrompi­das, profission­ais adoecem e pedem licença, e alunos ficam sem professore­s.

Atacada pela mãe da aluna, Luciana Rocha, 41, ficou dois anos afastada após o episódio, por motivos de saúde. “Não consigo mais entrar na sala de aula”, diz.

Ela hoje exerce funções administra­tivas, assim como Jeferson, que foi atacado com a cadeira em 2015. Desde que foi golpeado, ele toma medicament­os contra depressão e síndrome do pânico. Evita pegar ônibus na hora do almoço para não encontrar outros estudantes no transporte. Talvez até volte a lecionar, mas não tem certeza.

Agredido há pouco mais de um mês em Bragança Paulista, Márcio voltou à sala de aula, mas em outra escola. Dessa vez, conta, foi ele que pediu desculpas aos estudantes —por não conseguir “se segurar” na sala. “Chorei por quase um minuto e meio na frente SOLUÇÕES Apontados como fatores que influencia­m a violência escolar, os problemas sociais e de segurança pública não se resolvem simplesmen­te por iniciativa das escolas.

Na tentativa de uma solução interna, escolas de São Paulo têm apostado em ações de mediação de conflito.

Na rede estadual, desde 2010, professore­s têm sido treinados para atuar em casos de ofensas, ameaças e agressões, inclusive com ações preventiva­s.

A atuação desses profission­ais tinha melhorado a situação da violência, diz Maria Izabel Noronha, dirigente da Apeoesp (sindicato dos professore­s da rede estadual).

Segundo ela, porém, parte do quadro desses profission­ais foi cortada pelo governo Geraldo Alckmin (PSDB).

Chefe de gabinete da secretaria de Educação, Wilson Levy rebate a informação e afirma que houve uma junção desse programa com outro, de escola da família.

Segundo ele, a pasta anunciará em breve um programa para aumentar o número de professore­s mediadores na rede, com foco nas regiões com maior vulnerabil­idade social do Estado. “Mas é preciso lembrar que o que acontece na escola é um sintoma”, afirma. “A violência está na sociedade.” (ANGELA PINHO)

Muitas vezes não se entende como uma coisa tão pequena gerou uma reação tão forte O que acontece na escola é um sintoma

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