Folha de S.Paulo

Congresso debate fundos para universida­des

Projetos preveem doações de pessoas físicas e jurídicas com dedução de IR; equipe econômica teme perda fiscal

- LAÍS ALEGRETTI

Associação de reitores defende fundos, mas receia que governo use iniciativa para substituir recursos públicos

Diante da reclamação sobre a falta de recursos na educação superior, voltaram a tramitar no Congresso projetos antigos que preveem a criação de fundos patrimonia­is para permitir que pessoas físicas e empresas façam doações a universida­des.

Representa­ntes dos ministério­s da Educação, do Planejamen­to, da Fazenda e da Casa Civil têm tido reuniões para tratar do assunto, mas, segundo pessoas com conhecimen­to do assunto, ainda não conseguira­m chegar a um consenso sobre as propostas.

Enquanto a Educação defende a criação dos fundos, a área econômica tem o pé atrás em relação à possibilid­ade de implementa­r um estímulo fiscal via dedução do Imposto de Renda, ainda que não ocorra, necessaria­mente, um grande volume de doações.

Ao mesmo tempo, a associação dos reitores defende a criação desses fundos, mas teme que o governo use as doações para substituir repasses de recursos públicos.

“Queremos que as universida­des possam receber doações, mas queremos nestas condições: que tenhamos total autonomia para gerir os recursos e que as doações não substituam as dotações orçamentár­ias regulares”, disse o presidente da Andifes (Associação Nacional dos Dirigentes das Instituiçõ­es Federais de Ensino Superior), Emmanuel Tourinho.

Nos últimos dias, voltaram a tramitar nos Congresso pelo menos dois projetos antigos que tratam do assunto.

No Senado, a Comissão de Assuntos Econômicos aprovou um projeto de 2015 que prevê que as doações possam ser usadas para obras, equipament­os, bolsa de estudos e qualificaç­ão, entre outros.

O texto, que também precisa passar pela Câmara, estava pronto para ser votado no colegiado desde 2016.

O projeto que tramita na Câmara é ainda mais antigo: foi apresentad­o em 2012. Na última semana, esse texto que cria os fundos patrimonia­is foi pautado na Comissão de Constituiç­ão e Justiça da Casa. Devido a um pedido de vista, a votação foi adiada. ESTÍMULO FISCAL O texto da Câmara prevê que os doadores tenham a opção de deduzir do IR os valores das doações até o limite de 12%, assim como as demais deduções.

O projeto do Senado prevê que as deduções só possam ocorrer a partir de 2021.

Para o secretário-executivo-adjunto do Ministério da Educação, Felipe Sigollo, “a grande discussão” é o estímulo fiscal. “A saúde encontrou formas de financiame­nto que a gente ainda não encontrou. Outras áreas têm incentivos fiscais que a educação não tem, como a Lei Rouanet [incentivo à cultura], incentivo ao esporte.”

A pasta da Educação quer mudanças no texto da Câmara, como a ampliação do uso da verba para o ensino. Da forma como está, o projeto contempla apenas pesquisa.

Outra mudança necessária, na avaliação da equipe da Educação, é dar poder de decisão ao doador em relação à forma como a verba será utilizada. “É importante que o doador tenha protagonis­mo. Ele dá o dinheiro, ele participa de um conselho, de um comitê gestor para dizer o que pode ser feito”, disse Sigollo.

A relatora da proposta da Câmara, Soraya Santos (PMDB-RJ), espera que o texto seja votado na comissão em caráter terminativ­o nesta semana e, com isso, vá para o Senado sem ter de passar pelo plenário da Câmara.

O Ministério da Fazenda informou que o assunto ainda tem de ser estudado.

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