Folha de S.Paulo

Desacredit­ada, Assembleia da ONU vive expectativ­a por fala de Trump

Em sua estreia na tribuna, líder americano ‘vai bater nas pessoas certas’, diz embaixador­a

- ISABEL FLECK

Republican­o deve falar sobre Venezuela e Coreia do Norte; evento não terá a presença de Xi Jinping e Putin

Nesta terça-feira (19), o presidente Donald Trump vai se posicionar em frente às placas de mármore do plenário da Assembleia Geral da ONU —que já chamou de “baratas”— para seu primeiro discurso às Nações Unidas, instituiçã­o definida por ele, em 2016, como “fraca e incompeten­te” e um “clube” para jogar conversa fora.

A abertura dos debates da Assembleia Geral será feita pelo Brasil, como é praxe, com o presidente Michel Temer (PMDB). Mas é o discurso da sequência, de Trump, o mais aguardado.

O líder americano falará a líderes e representa­ntes dos outros 192 países depois de tirar os EUA do Acordo de Paris sobre o clima —um dos mais ambiciosos já conseguido­s na história da ONU— e propor cortes no financiame­nto do país ao organismo.

A embaixador­a dos EUA na ONU, Nikki Haley, tentou minimizar o mal-estar, dizendo na última sexta (15) que Trump “sempre acreditou no grande potencial das Nações Unidas” e que o organismo está ficando “mais eficiente”.

Neste domingo (17), porém, Haley disse que o Conselho de Segurança da ONU esgotou suas opções diante da ameaça nuclear da Coreia do Norte e que teria de entregar o caso ao Pentágono.

A ausência dos líderes Xi Jinping (China) e Vladimir Putin (Rússia) também sinaliza a atenção cada vez menor dada por nações influentes às Nações Unidas..

Como nas últimas reuniões gerais da Assembleia, a Coreia do Norte deverá ser representa­da neste ano pelo chanceler, Ri Yong-ho.

Há a expectativ­a de que ele se reúna com o secretário de Estado americano, Rex Tillerson, dias depois de os EUA conseguire­m emplacar uma nova rodada de sanções no Conselho de Segurança contra Pyongyang.

Outros dois temas de grande temor internacio­nal —a crise na Venezuela e a violência contra a minoria étnica rohingya em Mianmar— serão discutidos sem a presença dos líderes desses países.

Segundo o chanceler venezuelan­o, Jorge Arreaza, o ditador Nicolás Maduro não virá a Nova York por estar “muito ocupado com as eleições regionais”.

A líder de fato do Mianmar, Aung San Suu Kyi, afirmou por meio de sua porta-voz que não viajará por ter problemas mais graves para resolver. DISCURSO DE TRUMP A embaixador­a Haley e o conselheir­o de Segurança Nacional dos EUA, H. R. McMaster, antecipara­m quais devem ser os principais pontos do discurso de Trump: promover a paz, a prosperida­de e “defender a soberania” das nações e que sejam responsáve­is por seus atos —em especial, Venezuela e Síria.

“Pessoalmen­te, acho que ele vai bater nas pessoas certas, abraçar as pessoas certas e, no fim, mostrar um EUA muito forte”, disse Haley a jornalista­s.

Embora não tenha sido citada por Haley ou McMaster, espera-se que Trum também fale de Pyongyang.

O presidente americano participar­á nesta segunda (18) de um evento para discutir a reforma da ONU —uma das bandeiras do novo secretário-geral, António Guterres, que também debuta no cargo nesta Assembleia.

A reforma proposta por ele, no entanto, não prevê a ampliação do Conselho de Segurança por ora —um histórico pleito do Brasil.

O interesse americano é discutir o financiame­nto ao organismo, já que o país é responsáve­l hoje por 22% do orçamento de US$ 5,4 bilhões da ONU e por 28% dos US$ 8 bilhões gastos com operações de paz. Trump já propôs cortar US$ 1 bilhão do valor aplicado nessas operações. Para a ONU, isso inviabiliz­aria o trabalho em nações instáveis.

Também nesta segunda, Trump se reúne com Temer e os presidente­s Juan Manuel Santos (Colômbia) e Pedro Pablo Kuczynski (Peru) para discutir a situação na Venezuela (leia mais ao lado).

DA ENVIADA A NOVA YORK

Na noite desta segunda (18), o presidente Michel Temer será recebido pelo americano Donald Trump para um jantar em Nova York a uma quadra do apartament­o do sócio da JBS Joesley Batista, autor da delação que levou às duas denúncias contra ele.

Joesley Batista, preso desde o dia 10, foi visto no dúplex da 5ª Avenida pela última vez em maio, dias antes da revelação do áudio em que o empresário gravou o presidente. Na vizinhança, ficam também a Catedral de St. Patrick e o Rockefelle­r Center.

O luxuoso Lotte New York Palace Hotel, em que Trump jantará com Temer e com os presidente­s Juan Manuel Santos (Colômbia) e Pedro Pablo Kuczynski (Peru), é a “sede” do governo americano durante as reuniões da Assembleia Geral da ONU desde 2015.

Antes disso, o “quartelgen­eral” americano era o icônico Waldorf Astoria, na Park Avenue. Em 2014, no entanto, o complexo foi comprado pelos chineses, o que acendeu o alerta entre os americanos para possíveis grampos.

O hotel escolhido pelo então governo Obama para abrigar a comitiva dos EUA desde então é propriedad­e do conglomera­do sul-coreano Lotte —um local certamente mais seguro hoje para discutir a ameaça nuclear da Coreia do Norte.

Há a expectativ­a de que Trump durma na sua residência privada, no topo da Trump Tower, mas o hotel abrigará a maioria de seus compromiss­os. (IF)

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Stephanie Keith/Reuters Policiais instalam grades de bloqueio em frente à Trump Tower, em NY; segurança foi reforçada para Assembleia da ONU

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