Folha de S.Paulo

Favorita à reeleição, Merkel vê França disposta a estreitar relação

Macron formou gabinete para se aproximar da chanceler alemã, que deve obter 4º mandato

- DIOGO BERCITO

Parceria pode esbarrar em itens econômicos; Paris quer instituir ministro de Finanças da UE, e Berlim discorda

A chanceler alemã, Angela Merkel, deve ser reeleita neste domingo (24). Ponto para o presidente francês, Emmanuel Macron, que conta com isso para cumprir com uma de suas promessas de campanha: fortalecer o eixo entre Paris e Berlim.

Macron espera ativar a parceria que já tem até um apelido —Merkron, unindo os nomes de ambos— para renovar a União Europeia, desafiada pela saída britânica, conhecida como “brexit”.

Não à toa Macron nomeou ministros falantes de alemão para seu gabinete, incluindo o premiê Édouard Philippe, que esteve em reunião em Berlim na sexta-feira (15).

Tampouco foi por acaso que Macron viajou, um dia após a posse, para a capital alemã, onde ao lado de Merkel pediu uma “reconstruç­ão histórica para a Europa”.

“Os dois países estão se preparando para possíveis mudanças”, diz à Folha a analista alemã Jacqueline Hénard, especialis­ta nas relações entre Berlim e Paris.

“O governo francês já foi montado para entender melhor o que os alemães estão dizendo. O importante, agora, é vermos como o gabinete alemão será formado.”

Berlim já vinha insistindo na necessidad­e de novas dinâmicas na UE, mas os governos franceses —por exemplo, o do socialista François Hollande— eram avessos ao debate. A França recusou em 2005, em referendo, instituir uma Constituiç­ão europeia.

O elemento novo é o próprio Macron, que quer convocar uma consulta aos cidadãos do bloco para entender seus descontent­amentos. As reformas são incentivad­as pela sensação de que são agora urgentes: cresce a insatisfaç­ão popular com a UE.

A tese é de que os insatisfei­tos migram para os partidos populistas, como a Frente Nacional, que teve 34% dos votos nas eleições presidenci­ais francesas.

Tamanho parece ser o interesse de Macron que, para dar crédito às negociaçõe­s com Berlim, seu governo abriu mão de parte de suas próprias reformas fiscais, adiando cortes nos impostos.

O presidente centrista optou por garantir pela primeira vez em anos que o deficit orçamentár­io estará abaixo do limite europeu de 3% do PIB (produto interno bruto), como insiste a Alemanha.

Com o gesto, quis mostrar a Merkel que ele é um aliado responsáve­l no setor fiscal. MUROS O diálogo entre Paris e Berlim entrará em uma nova fase com a reeleição de Merkel, hoje apontada por todas as pesquisas de opinião.

Seu partido, a CDU (União Democrata-Cristã), lidera com 36% segundo a sondagem feita pelo Forschungs­gruppe Wahlen. O segundo lugar, o SPD (Partido SocialDemo­crata), tem 23%.

A pesquisa foi feita de 12 a 14 de setembro com 1.383 pessoas. Não há informaçõe­s sobre sua margem de erro.

O próximo governo alemão deve ser formado por uma coalizão, e não está claro quem seriam os parceiros de Merkel. Muito dependerá de quem chegar em terceiro lugar, um posto em disputa.

De todo modo, as negociaçõe­s dentro da União Europeia costumam caber à própria Chancelari­a e permanecer­iam nas mãos de Merkel.

Mas as discussões para a renovação do bloco europeu devem ter obstáculos.

A Alemanha dificilmen­te concordará, por exemplo, que a UE tenha um ministro das Finanças, algo que Macron sugeriu em sua campanha eleitoral.

Essa dinâmica também vai depender, segundo Hénard, de quem assumir a chefia do Banco Central Europeu no lugar do italiano Mario Draghi, cujo mandato expira em 2019. O presidente do banco central alemão, Jens Weidmann, é cotado para a vaga.

“Macron e Merkel querem reformar a UE, mas há desacordo em muitos assuntos, em especial os financeiro­s”, diz Gerard Grunberg, do Centro de Estudos Europeus da Sciences Po. Área: 348,6 mil km² (pouco maior que Goiás) População: 80,5 milhões (quase duas vezes São Paulo) PIB nominal (2016): US$ 3,46 trilhões (Brasil US$ 1,79 trilhão) Cresciment­o do PIB (2016): 1,8% (Brasil -3,6%) Inflação (2016): 0,4% (Brasil 8,7%) Desemprego (2016): 4,3% (Brasil 11,8%) IDH (2016): 4º lugar (Brasil é o 79º) Eleições gerais (em %) Partido de Merkel é favorito para manter controle do Parlamento* CDU/CSU (partido de Merkel, centro-direita) SPD (centro-esquerda) 23 36 FDP (centro) 10 AfD (direita nacionalis­ta) 10 Esquerda 9 Verdes (centro-esquerda) 8 Outros 4

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Fabrizio Bensch/Reuters Merkel participa de uma sessão de perguntas com crianças em Berlim, neste domingo (17)

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