Folha de S.Paulo

Brasil festeja assinatura de acordo nuclear

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DE NOVA YORK

Nos dias antes da Assembleia-Geral da ONU, a sede da missão do Brasil no órgão em Nova York estava em polvorosa, com ministros, secretário­s e embaixador­es redecorand­o suas instalaçõe­s.

Mas o momento mais esperado por diplomatas do país acontece na quarta (20), quando Michel Temer e ao menos outros 42 chefes de Estado assinarão um tratado que proíbe armas nucleares.

O documento é um esforço de África do Sul, Áustria, Brasil, Irlanda, México e Nigéria. Aprovado em julho por 122 países na ONU, o pacto tem a – difícil– ambição de pôr fim aos arsenais atômicos.

Nenhuma nação que os possui, entre elas China, França, EUA, Reino Unido e Rússia, membros permanente­s do Conselho de Segurança da ONU, apoia essa medida.

Entre os opositores mais ferozes do documento, os americanos tentaram pressionar diplomatas dos países que deram aval ao avanço do tratado a desistir da ideia.

A Holanda, que tem armas nucleares dos EUA plantadas em seu território, votou contra, não sem antes defender uma versão diluída do acordo.

O mais improvável entre os apoiadores está a Coreia do Norte. O regime de Kim Jong-un, que vem realizando testes nucleares, votou a favor da medida em gesto visto por diplomatas como mais uma provocação à Casa Branca.

Índia, Israel e Paquistão, países que têm arsenais à revelia do estipulado pelo Tratado de Não Proliferaç­ão Nuclear, também ficaram às margens da negociação, assim como Japão e Coreia do Sul.

“O Brasil vê que a situação da Coreia do Norte mostra a necessidad­e de desarmamen­to, já que a possibilid­ade de conflito armado é ainda mais catastrófi­ca”, diz a diplomata Larissa Calza, que acompanhou o diálogo.

“A existência dessas normas cria um constrangi­mento e gera uma mudança de comportame­nto mesmo que um país não queira aderir ao tratado.”

Num momento de crise do Brasil, com as denúncias contra Temer e uma crise econômica longe do fim, o Itamaraty enxerga a assinatura do tratado como uma vitória.

“O fato de ter havido tanta resistênci­a para que esse tratado fosse assinado demonstra que ele não é tão inócuo.”, diz Frederico Duque Estrada Meyer, um dos chefes da missão brasileira na ONU.

Na visão do Itamaraty, o tratado ainda corrige uma lacuna jurídica, já que a proibição desse tipo de armamento complement­a o veto a armas químicas e biológicas já chancelado pela ONU.(SM)

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