Folha de S.Paulo

Bravatas atômicas

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BRASÍLIA - Donald Trump não gosta de passar despercebi­do. Muito menos quando o mundo inteiro está olhando. Em seu primeiro discurso numa Assembleia Geral da ONU, ele apostou na retórica agressiva para dominar todas as manchetes.

Numa entidade criada para promover a paz e mediar conflitos, o presidente dos EUA adotou o tom de senhor da guerra. Ele atacou uma série de países que considera inimigos de Washington e ameaçou “destruir totalmente” a Coreia do Norte.

Trump acusou Kim Jong-un de comandar um “regime depravado” e acusou o ditador de estar numa “missão suicida”. Pode ser tudo verdade, mas a diplomacia oferece formas menos arriscadas de lidar com um tirano com mísseis atômicos.

Ele reforçou a atitude de provocação chamando o norte-coreano de “Rocket Man” (“Homem do Foguete”), um apelido que cunhou no fim de semana pelo Twitter.

O bilionário também direcionou a metralhado­ra verbal para o Irã. Ele chamou o país de “ditadura corrupta” e voltou a torpedear as negociaçõe­s conduzidas por Barack Obama. Disse que o acordo para frear a corrida armamentis­ta do país é um “motivo de constrangi­mento”.

Em seguida, Trump mudou de alvo e descreveu a Síria como um “regime assassino”. Depois, fez ameaças à Venezuela e a Cuba, com quem Obama também negociou uma reaproxima­ção histórica.

O presidente resumiu sua visão das relações internacio­nais com uma fórmula que lembra o “eixo do mal” do antecessor George W. Bush. “Se os muitos justos não enfrentare­m os poucos perversos, o mal vai triunfar”, afirmou.

O maior alvo do discurso de Trump parece ser o próprio eleitorado, que vibra com suas bravatas. O problema é que uma ameaça no púlpito da ONU pode ter consequênc­ias mais sérias do que um discurso populista de campanha. Ainda mais quando o falastrão controla o maior arsenal nuclear do planeta.

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