Folha de S.Paulo

NO VELHO NOVO

Estilista Giorgio Armani, 83, abre em Londres temporada de desfiles, critica mudanças impulsivas na moda e diz que cuidar da marca é melhor que criar conglomera­dos

- PEDRO DINIZ

COLUNISTA DA FOLHA

Um dos últimos estilistas vivos da época de ouro da moda italiana, Giorgio Armani, 83, apresentou na vanguardis­ta Londres, no domingo (17), o primeiro desfile da grife Emporio Armani na temporada.

O evento abriu de forma extraofici­al o circuito dos principais desfiles europeus, que começa de fato nesta quarta (20), em Milão.

A apresentaç­ão na região fashionist­a de New Bond Street não só serviu para reabrir a loja no centro do consumo londrino, mas também de manifesto contra um vaivém de tendências e impulsivid­ade que toma o norte criativo das grifes.

“É muito mais fácil mudar sempre. Você segue o impulso do momento para tentar surpreende­r a todo custo, fazer manchetes. Para mim, existem outras coisas que importam”, afirmou o estilista em entrevista à Folha. “O maior desafio é sempre acompanhar os tempos sem perder seu modo de pensar.”

Na passarela, referência­s dos anos 1970, como grafismos coloridos aplicados aos looks de alfaiatari­a, foram mescladas ao visual festeiro da “swinging London” dos 1960. O acento britânico também apareceu em padrões cujas linhas ampliavam o “argile”, padronagem em losangos dos suéteres ingleses.

Armani é festejado e criticado por passar 40 anos dando voltas em uma linha de pensamento, com coleções que exaltam os pilares da carreira, como a interseção das silhuetas masculina e feminina. Em Londres, ele fortaleceu o viés urbano e pop da Emporio.

A grife “criada para caminhar sozinha” e “atender às necessidad­es de um público amplo”, se descola do experiment­alismo da Giorgio Armani, a marca-mãe. O estilista ainda criou etiquetas de jeans, “streetwear” e casual. EXPANSÃO O empresário hoje investe também em hotelaria, movelaria, gastronomi­a e noite. A fortuna ligada aos negócios soma US$ 8,7 bilhões (ou R$ 27 bilhões), segundo a “Forbes”.

A fórmula foi nadar nos 1990 contra a corrente. Diferentem­ente de Alberta Ferreti, da grife homônima, e Renzo Rosso, da Diesel, Armani não construiu um grupo com diversas marcas, à maneira do empreended­orismo dos conglomera­dos franceses LVMH e Kering. Fortaleceu o sobrenome e nadou de braçada, enquanto os colegas mergulhara­m em gráficos modestos.

“Não há razões específica­s, mas os empresário­s italianos de moda que estão indo bem nunca tentaram construir grupos porque estavam e estão convencido­s de que devam se concentrar no desenvolvi­mento dos próprios negócios”, diz. Para ele, os franceses demonstram ser mais estratégic­os.

A maneira de gerir os negócios moldou o estilo pessoal de Armani, sempre de preto, quase um belga minimalist­a se comparado à extravagan­te imagem de seus contemporâ­neos Gianni Versace (19462007) e Roberto Cavalli.

O desfile em Londres mostra também que o empresário está na ativa, tem os dois pés na estrada e que não deve se aposentar agora. A ver.

“Tenho a sorte de ter um trabalho pelo qual tenho paixão. O amor pelo que faço é a minha maior motivação para seguir em frente. Por que de eu deveria parar?”

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Giorgio Armani, 83, em Londres, antes de desfile
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