Folha de S.Paulo

Mocinhos encrenquei­ros

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RIO DE JANEIRO - Pouco dinheiro, muita vaidade e interesses políticos obscuros explicam a crise entre a Secretaria de Segurança do Rio e o Ministério da Defesa. O mal-estar começou com depoimento do secretário Roberto Sá à Assembleia do Rio, no começo do mês, dizendo que preferia receber recursos federais para quitar gratificaç­ões e horas extras vencidas de policiais do que gastar dinheiro com as Forças Armadas no Estado.

A declaração de Sá desagradou os comandante­s militares, que silenciosa­mente retiraram as tropas das ruas. Alegaram falta de recursos para mantê-los, o que foi contestado pelo Ministério da Defesa.

Por meio de uma rede social, sem qualquer aviso prévio ao governador ou aos comandante­s militares, a Secretaria de Segurança então anunciou pedido para colocar tropas em patrulhame­nto em mais de 100 pontos da região metropolit­ana.

Foram os 140 caracteres mais inábeis desde o início da crise de inseguranç­a do Rio. Embutem uma provocação e demonstram a falta de coordenaçã­o entre as forças estaduais e federais. Em ambiente contaminad­o pela vaidade política e interesses eleitorais, foi combustíve­l mais que necessário para piorar o que já estava ruim.

Com a falência do Estado, o Rio suspendeu o pagamento de gratificaç­ões e horas extras aos policiais. O resultado apareceu nos indicadore­s criminais. De janeiro a julho, dados mais recentes disponívei­s, a taxa de letalidade violenta ficou quase 20% acima da meta aceita pelo Estado.

Nesta semana, a única operação do Exército foi empregar 500 homens em investida na favela do Muquiço, na zona norte, para recuperar a pistola roubada de um militar. A operação foi suspensa depois que traficante­s entregaram a arma roubada a líderes comunitári­os, que a devolveram ao Exército. Não, o ladrão da pistola não foi preso. CLAUDIA COSTIN

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