Folha de S.Paulo

‹ Foi uma conversa privada, afirma a Procurador­ia

- O procurador Sidney Pessoa Madruga no restaurant­e Taypá, em Brasília, nesta quinta-feira

Em conversa presenciad­a pela Folha, um integrante da equipe da procurador­a-geral da República, Raquel Dodge, afirmou que a “tendência” do órgão é investigar Eduardo Pelella, ex-chefe de gabinete de Rodrigo Janot.

Dodge tomou posse na segunda (18) em substituiç­ão a Janot. Ambos são adversário­s dentro da Procurador­ia.

A Folha flagrou um diálogo entre o procurador Sidney Pessoa Madruga e uma mulher não identifica­da por mais de uma hora nesta quinta-feira (21) no restaurant­e Taypá, no Lago Sul, em Brasília. A reportagem estava na mesa ao lado da de Madruga.

Ele foi escolhido por Dodge para ser coordenado­r do Genafe (Grupo Executivo Nacional da Função Eleitoral), que traça as metas de atuação eleitoral do Ministério Público.

No almoço desta quinta, Madruga se referia à atuação de Pelella, braço direito de Janot na Procurador­ia, na negociação da delação da JBS.

Procurador da República, Pelella é mencionado em diálogos de delatores da JBS como interlocut­or da PGR. Ele se reuniu com um deles, o advogado Francisco Assis e Silva, dias antes do encontro, em 7 de março, entre Joesley Batista e o presidente Michel Temer no Jaburu. Janot e seu ex-assessor negam irregulari­dade.

“Não é para punir, é para esclarecer”, disse Madruga. O procurador afirmou que é preciso entender “qual é o papel do Pelella nessa história toda, porque está todo mundo perguntand­o”.

A conversa entre Madruga e sua interlocut­ora começou por volta das 13h30 e se estendeu até 15h. Foram servidos uma entrada, prato principal, água e uma garrafa de vinho tinto.

A Folha ouviu Madruga afirmar que a nova gestão da PGR precisa construir outra relação com a força-tarefa dos procurador­es da Lava Jato em Curitiba, com mais interlocuç­ão e controle do que a anterior. Ele chegou a criticar Janot por, em sua avaliação, deixar a força-tarefa muito solta.

Na conversa, Madruga questionou o papel de Pelella, que, segundo ele, na função de chefe de gabinete trabalhou intensamen­te na Lava Jato. A frase foi dita no mo- mento em que os dois presentes à mesa abordavam a atuação do ex-procurador Marcello Miller no caso da JBS.

Exonerado em abril, o exprocurad­or é investigad­o por ter atuado para a empresa antes de se desligar do Ministério Público. A suspeita levou ao cancelamen­to do acordo de Joesley Batista e de Ricardo Saud, também delator do grupo, e à prisão de ambos.

Em relação a Miller, Madruga disse que a Procurador­ia terá que investigar se “os 50” teriam chegado a ele, referindo-se a valores que o ex-procurador teria recebido.

Depois de meia hora de conversa, Madruga falou sobre a campanha de Janot contra a nomeação de Dodge. Afirmou que o ex-procurador “pegou pesado” na imprensa e que teria enviado um interlocut­or duas vezes para falar com Temer sobre outro nome que estaria fora da lista tríplice de indicados pela categoria ao cargo.

Disse ainda que chegaram à equipe informaçõe­s de que Janot iria ingressar em um escritório de advocacia.

Madruga abordou a situação do ex-ministro Geddel Vieira Lima, preso em Brasília. “Em Salvador dizem que ele não se elegeu [ao governo do Estado] em 2010 porque bati muito nele lá”, afirmou, referindo-se ao período em que atuou como procurador eleitoral da Bahia (2009 a 2013). Segundo ele, o político “tem pavor de ser preso”.

LETÍCIA CASADO,

sobre uma eventual investigaç­ão a respeito de Eduardo Pelella sobre o ex-ministro que foi preso no início do mês

SIDNEY PESSOA MADRUGA

procurador que integra a equipe de Raquel Dodge SECRETARIA DE COMUNICAÇíO DA PROCURADOR­IA-GERAL

DE BRASÍLIA

A Secretaria de Comunicaçã­o da Procurador­ia-Geral da República disse que as afirmações do procurador Sidney Pessoa Madruga descritas na reportagem fazem parte de uma “conversa privada, de um procurador que atua em matéria eleitoral, no Rio, não tendo, portanto, nenhuma atuação criminal, na Operação Lava Jato”.

Afirmou também que “os questionam­entos apresentad­os pela reportagem não refletem o teor do diálogo”.

O jornal informou o procurador das frases ouvidas pela reportagem e fez algumas perguntas, como quem era sua interlocut­ora à mesa e a que se referia quando atribuiu “50” ao ex-procurador Marcello Miller.

Coordenado­r do Genafe (Grupo Executivo Nacional da Função Eleitoral), Madruga teve sua nomeação publicada no Diário Oficial da União de terça (19), um dia depois da posse de Raquel Dodge.

Segundo informaçõe­s da PGR, Madruga atuava até o momento como procurador regional eleitoral no Rio, tendo sido reeleito até 2019.

Não é para punir, é para esclarecer [É preciso entender] qual é o papel do Pelella nessa história toda, porque está todo mundo perguntand­o Em Salvador, dizem que ele [Geddel] não se elegeu em 2010 porque bati muito nele lá “

Trata-se de conversa privada, de procurador que atua em matéria eleitoral, no Rio de Janeiro, não tendo, portanto, nenhuma atuação criminal, na Operação Lava Jato —nem no Rio de Janeiro nem em Brasília

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