Folha de S.Paulo

Brasil não poderia ser mediador da crise na Venezuela, diz Aloysio

Para o chanceler, país “tem um lado muito definido” contra regime de Nicolás Maduro

- ISABEL FLECK

O chanceler brasileiro, Aloysio Nunes, disse nesta quinta-feira (21) que o Brasil não poderia ser mediador no diálogo entre o regime de Nicolás Maduro e oposição na Venezuela, que vem sendo negociado sob liderança da República Dominicana, por “ter um lado muito definido”.

“O Brasil não pode ser mediador, nós temos um lado muito definido”, disse Aloysio aos jornalista­s em Nova York, onde se encontrou com os outros ministros dos países do chamado Grupo de Lima na última quarta.

Na última semana, o presidente dominicano, Danilo Medina, anunciou que quatro países —Bolívia e Nicarágua, mais próximos ao mandatário chavista, e México e Chile, alinhados com a oposição— integrarão uma comissão para dar seguimento às conversas, que devem ser retomadas na quarta (27).

O Brasil tem preferido limitar sua atuação ao Mercosul e ao grupo de Lima, formado por 12 países, que, em agosto, concordara­m em não reconhecer as decisões tomadas pela Assembleia Constituin­te convocada por Nicolás Maduro e integralme­nte composta por seus aliados.

Segundo Aloysio, na reunião dos chancelere­s do grupo nesta quarta, em Nova York, foram discutidos dois pontos novos, que ainda não tinham ocorrido em agosto: a retomada do diálogo mediado pela República Dominicana e o início de um processo eleitoral na Venezuela com eleições para os governos estaduais, em 15 de outubro.

O grupo emitirá um novo comunicado —que, segundo Aloysio, será bastante semelhante ao primeiro nesta sexta (22) ou no sábado (23). RÚSSIA Segundo Aloysio, a crise na Venezuela também foi tema de discussão na reunião com o chanceler russo, Sergei Lavrov, durante a Assembleia­Geral da ONU em Nova York.

“Ele pediu nossa opinião [sobre a situação no país] e disse que houve uma ruptura democrátic­a e que nossa posição continua ser a de favorecer uma solução pacífica, dialogada, tendo como interlocut­ores os próprios venezuelan­os”, afirmou.

Em seu discurso no plenário, Lavrov disse ser inaceitáve­l “incitar a desordem e ameaçar com o uso da força” a Venezuela. “As tentativas de ignorar as opiniões e usar ultimatos sem o apoio da Carta das Nações Unidas nunca levaram a nada de bom.”

Desde o início dos protestos, em abril, o governo de Vladimir Putin dá seu apoio a Maduro. Moscou também reconheceu a Constituin­te.

Aloysio teve ainda encontros com suas contrapart­es do Japão, da Índia, da Indonésia, da Lituânia, da Ucrânia e participou das reuniões dos ministros dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) e do Ibas (Índia, Brasil e África do Sul).

Nesta sexta, o chanceler brasileiro se reúne com os chancelere­s do Irã, Mohammad Javad Zarif, e da Coreia do Sul, Kang Kyung-wha.

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