Folha de S.Paulo

Sistema misto influencia tática de campanha alemã

Modelo, que foi proposto no Brasil, prevê votos paralelos em candidato local e em partido

- CAROLINA VILA-NOVA

Parlamento varia de tamanho, e candidatos a chanceler se veem obrigados a falar de problemas locais

Não há, na Alemanha, “microtarge­tting” —a tática de criar peças de propaganda e discursos específico­s para cada nicho do eleitorado.

Há lugares fixos para pôsteres e é comum os de candidatos a chanceler coabitarem a parede dos de representa­ntes locais de outro partido.

O custo das campanhas também é baixo: o governo federal e mensalidad­es de membros dos partidos pagam a maior parte das despesas, enquanto doações individuai­s e de empresas compõem um terço dos custos.

Não há limite para doação privada, mas contribuiç­ões acima de € 10 mil (R$ 37,4 mil) devem ser identifica­das.

Nas últimas eleições, em 2013, o SPD fez a campanha mais cara, € 23 milhões, seguido pela CDU, com € 20 milhões. Lembrete: esses valores são distribuíd­os entre todos os candidatos combinados, inclusive os líderes, candidatos a chanceler.

No Brasil, em 2014, a campanha do PT consumiu R$ 1,1 bilhão e a do PSDB, R$ 1 bilhão, segundo o Tribunal Superior Eleitoral (ou R$ 1,3 bilhão e US$ 1,2 bilhão em valores corrigidos — € 350 milhões e € 320 milhões).

Outra regra importante é a cláusula de barreira: partidos que deixem de obter 5% do voto nacional ou consigam menos de três cadeiras no voto direto são excluídos do Parlamento, e a participaç­ão dos demais é recalculad­a. A ideia é que grande fragmentaç­ão partidária evita o consenso e provoca instabilid­ade.

Ela acaba por ter um efeito direto na formação das coalizões, quando um dos parceiros tradiciona­is de coalizão é barrado. Neste ano, a expectativ­a é que sete partidos, entre eles o FDP e o AfD (direita populista), entrem no Parlamento, número recorde.

“Sempre foi para ser um sistema multiparti­dário, e a tradição pós-Segunda Guerra tem sido governo de coalizão, com o consenso construído por dois partidos, um maior e outro menor. Mas nos últimos tempos o cenário se fragmentou”, diz David-Wilp.

“Os maiores partidos, CDU e o SPD, se mesclaram no centro e suas identidade­s ideológica­s também, deixando um vácuo que permitiu que grupos nas margens da direita e da esquerda começassem a ter mais apelo a suas bases.”

No máximo um mês após a eleição, coalizões formadas, o Parlamento elege chanceler o líder do principal partido. Não há limite de mandatos. Helmut Kohl (1982-98) é, por ora, o recordista. Vigora o chamado sistema proporcion­al, que leva em conta na divisão das cadeiras toda a votação dada nos candidatos do partido ou da coligação, além do voto na legenda Proposta recusada previa eleição dos candidatos mais votados no Estado

ideológica­s também, deixando um vácuo que permitiu que grupos nas margens da direita e da esquerda começassem a ter mais apelo

 ?? Carolina Vila-Nova/Folhapress ?? Pôster local do Die Link (à esq.) ao lado de candidatos nacionais verdes em Magderburg
Carolina Vila-Nova/Folhapress Pôster local do Die Link (à esq.) ao lado de candidatos nacionais verdes em Magderburg

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