Folha de S.Paulo

Líder da Alemanha ampliará influência e terá que conter crises

Ascensão de Donald Trump nos EUA deu a Angela Merkel maior poder de liderar negociaçõe­s globais

- DIOGO BERCITO

Coreia do Norte, avanço russo e a relação com Washington serão maiores desafios em política externa

“Não fique ansiosa, Angela Merkel”, alguém poderia dizer à chanceler alemã às vésperas das eleições deste domingo (24), às quais ela é a favorita. “É apenas o posto de líder do mundo livre.”

O cargo para o qual Merkel deve ser reeleita, se de fato derrotar o rival Martin Schulz, vem com essa responsabi­lidade informal desde que Donald Trump se tornou presidente dos EUA, em janeiro, e adotou um discurso mais nacionalis­ta e isolacioni­sta.

Com a saída de cena de Barack Obama nos EUA e na ausência de outros líderes com grande projeção, Merkel é vista como uma espécie de farol moral —e não raramente tem a alcunha de “líder do Ocidente” atrelada a seu nome.

O vencedor dessas eleições governará a maior economia europeia, com PIB estimado em US$ 3,4 trilhões —dois Brasis— em 2017. Sua voz em assuntos como imigração, mudança climática e política monetária ressoará.

Serão diversos os desafios na política externa, alguns deles de proporções históricas, como a saída do Reino Unido da União Europeia.

Mas as crises beneficiam Merkel, que é vista por parte dos eleitores como a solução mais estável e segura, testada desde 2005, data em que começou na Chancelari­a.

Seu partido, a CDU (Aliança Democrata-Cristã), deve ter 36% dos votos neste domingo, segundo uma sondagem recente da firma YouGov.

O SPD (Partido Social-Democrata), de seu rival, Martin Schulz, receberia 22%.

As duas siglas governam hoje em uma grande coalizão, algo que poderá ser mantido. Ambos têm afinidade em temas de política externa.

A pesquisa foi feita de 15 a 18 de setembro com 2.042 pessoas. Não há detalhes sobre a sua margem de erro. CRISES Além da saída britânica da União Europeia, o “brexit”, o próximo chanceler enfrentará uma série de provas.

De imediato, terá que lidar com a crise na Coreia do Norte, que tem conduzido testes nucleares, desafiando a comunidade internacio­nal e se colocando em rota de colisão com os EUA.

Outro percalço será Vladimir Putin, cuja influência no Leste Europeu cresce. A Rússia anexou a Crimeia, território ucraniano, em 2014. Avança também sua influência digital —há suspeita de tentativas russas de interferir nos pleitos dos EUA e da França.

Um dos maiores problemas do próximo chanceler, porém, será lidar com os EUA. É algo que Merkel não teve de enfrentar nos anos de Obama na Casa Branca, mas com Trump o jogo mudou.

“Não há um só assunto em que não haverá atrito”, afirmaà Folha o analista Timo Lochocki, especialis­ta nas relações transatlân­ticas.

“Merkel tentará evitar contradize­r os EUA publicamen­te, para não danificar ainda mais seus laços”, afirma.

Ao menos quando for possível. Em entrevista à emissora Deutsche Welle nesta semana, a chanceler criticou as ameaças de Trump à Coreia do Norte na ONU de que destruiria o país “se preciso”. Ela respondeu: “Consideram­os qualquer solução militar totalmente imprópria”.

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