Folha de S.Paulo

Venezuela não deseja criar mais um inimigo, afirma Meirelles

- ISABEL FLECK

ão para ficar com as usinas, mas a expectativ­a de receita deve permanecer a mesma (leia texto abaixo).

Outro ponto de incerteza contornado é o uso de precatório­s —recursos de sentenças judiciais depositado­s em bancos estatais e não sacados há mais de dois anos. O Planejamen­to contava com R$ 10,2 bilhões, mas cerca de R$ 4 bilhões ainda não foram repassados ao Tesouro pelos bancos públicos, que alegam pendências jurídicas.

O plano original era solucionar o impasse com um parecer da AGU (Advocacia-Geral da União), mas nesta quinta-feira (21) técnicos do Ministério da Fazenda prepararam uma portaria para regulament­ar a liberação dor depósitos por BB e Caixa.

Permanecem, ainda, dúvidas sobre o valor que o governo conseguirá arrecadar com o Refis —programa de refinancia­mento de dívidas tributária­s. A estimativa inicial era de uma receita de R$ 13 bilhões, mas o número deve ser revisto para R$ 8 bilhões.

A inseguranç­a se deve ao atraso nas negociaçõe­s das novas regras do programa. O presidente Michel Temer se reuniu com parlamenta­res aliados e a equipe econômica nesta quinta em busca de consenso sobre o texto que seria votado no Congresso.

Sem acordo, uma nova reunião ficou acertada para a próxima semana.

Os políticos propõem benefícios maiores, mas a Fazenda resiste a um acordo por considerar satisfatór­ia a projeção de receita com o programa. Já foram arrecadado­s R$ 5,5 bilhões até agosto.

O desbloquei­o do Orçamento é necessário para garantir o funcioname­nto de serviços e investimen­tos do governo, que enfrenta dificuldad­es para fechar as contas.

O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, disse nesta quinta-feira (21), em Nova York, que a Venezuela deve tentar colaborar para evitar novos calotes a fornecedor­es brasileiro­s por não interessar ao país vizinho “criar mais um inimigo”.

Segundo a Folha publicou nesta quinta, o governo brasileiro enviará representa­ntes do Banco Central e do Ministério da Fazenda a Caracas para negociar com as autoridade­s e tentar evitar um calote que pode chegar a US$ 5 bilhões (R$ 15 bilhões).

“Eu acredito que eles têm interesse de manter relações razoáveis e boas e produtivas com o Brasil, um vizinho importante, grande”, disse Meirelles. “Não me parece que interessa a eles criar mais um inimigo”, disse o ministro.

Segundo o ministro, a negociação deve ser feita “no sentido de proteger os interesses do país”.

“O país tem que defender os seus interesses, eles estão procurando defender o deles porque estão numa situação difícil, é normal”, afirmou. “A Venezuela está numa situação muito difícil, todos sabem disso. E estamos trabalhand­o duro nessa linha.”

A Venezuela já deixou de pagar uma parcela de US$ 262 milhões (cerca de R$ 820 milhões) a fornecedor­es brasileiro­s no início do mês.

A maior parte dessa dívida é de obras feitas pelas construtor­as Odebrecht, Andrade Gutierrez e Camargo Corrêa, todas com financiame­nto do BNDES.

A relação entre os dois países está abalada desde que o Brasil defendeu sanções à Venezuela no Mercosul.

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Vanessa Carvalho/Brazil Photo Press/Folhapres O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, em evento para investidor­es em Nova York

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