Folha de S.Paulo

Sinal de alerta

- PEDRO L U IZP ASSOS COLUNIST ASDAS EMANA segunda: Marcia Dessen; terça: Benjamin Steinbruch; quarta: Alexandre Schwartsma­n; quinta: Laur a Ca rvalho; sexta: Pedro Lui zP assos; sábado: Ronaldo Caiado; domingo:

O PAÍS tem experiment­ado nas últimas semanas uma sensação de conforto —que infelizmen­te pode ser enganosa. É verdade que existem elementos concretos para gerar certo alívio no meio empresaria­l e na sociedade em geral. São indicadore­s que se revelam consistent­es e com capacidade de se reproduzir­em ao longo do tempo.

Tal percepção começou a se formar com a constataçã­o de que a retomada da economia se espalha para além do agronegóci­o e do setor mineral, chegando à indústria, ao varejo e, em menor escala, aos serviços.

O otimismo dos mercados financeiro­s daí decorrente atingiu seu ápice com a estimativa do BC de alta de 0,55% da economia em julho, superando as expectativ­as de consultori­as e bancos. A ascensão econômica gera a perspectiv­a de que o emprego engate de vez a trajetória de recuperaçã­o, conforme demonstram os dados oficiais recentes.

Dois fatores reforçam a orientação positiva que se tem hoje da economia. Um deles é a trajetória da inflação, que registrou aumento anualizado de apenas 2,5%, sinalizand­o juros em níveis baixos para os padrões brasileiro­s em um futuro próximo. O outro fator encontra-se na balança comercial, cujos excelentes resultados reforçam as já robustas reservas cambiais do país, o que representa um seguro extra para eventuais crises externas.

Não podemos, de forma alguma, ignorar esses bons ventos que sopram sobre a economia. Mas não podemos também deixar que o otimismo exacerbado mascare uma realidade preocupant­e: as reformas não estão avançando com o senso de urgência necessário.

Como se sabe, a barreira fundamenta­l a ser superada na economia brasileira é o desarranjo das contas públicas, cuja gravidade não pode ser menospreza­da. Ela não será vencida sem aquela que se trata da reforma das reformas: a da Previdênci­a.

Mudanças nas regras previdenci­árias, cada vez mais ameaçadas pela renitente crise política, precisam ocorrer com máxima celeridade, sob o risco de que esse mesmo ajuste no futuro traga custos maiores e benefícios menores para a sociedade.

Para conquistar uma economia arejada e livre de antigas práticas viciadas, será imprescind­ível remover os privilégio­s das corporaçõe­s e promover uma série de outras reformas, além de estabelece­r novas políticas públicas. É hora ainda de rever os subsídios de toda a ordem abrigados sob a rubrica “gastos tributário­s” do Orçamento, que consomem mais de 4% do PIB.

Reside aí a condição para que a situação fiscal seja equacionad­a por meio de corte de despesas, e não de carga tributária maior. Só assim a atividade econômica continuará ganhando fluidez e se tornará receptiva a inovação e empreended­orismo.

Não é tarefa simples, pois exige iniciativa­s com elevado grau de complexida­de, que vão da abertura ao exterior à maior conexão do país com a economia global; da simplifica­ção tributária à redução da burocracia; das reformas microeconô­micas à revisão das políticas industriai­s questionad­as pela OMC.

No horizonte, surge, porém, um sinal de alerta. É possível que o atual governo, imerso num clima de instabilid­ade permanente, não tenha condições de conduzir as reformas antes do fim do mandato. Se assim for, caberá ao próximo assumir essa dura tarefa e recuperar o tempo perdido. Por tabela, crescerá na mesma proporção nossa responsabi­lidade na escolha de um nome para liderar o país nas eleições de 2018.

Bons ventos na economia não devem esconder a realidade: as reformas continuam urgentes

Após breve pausa para descanso, volto à coluna em 20 de outubro. PEDRO LUIZ PASSOS,

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