Folha de S.Paulo

Em nome da família

- T A TI B E RNARDI COLUNIST ASD EST AS EMANA segunda: Leã oS erva; quarta: Francisc oDa udt; quinta: Sérgio Rodrigues; sexta: Tat iB ernardi; sábado: Oscar Vilhena Vieira; domingo: Antonio Prata

SE COM tanto livro e seriado maravilhos­o o ser humano ainda se distrai inventando leis, bandeiras e turminhas pra segregar os outros, aqui vai uma dica: escolha quem merece. Jogue seu inconformi­smo ou gana de justiça em cima das pessoas que realmente precisam de cadeia ou tratamento.

Gays, trans, putas, putos, gente pró-aborto, gente pró-relacionam­ento aberto, mães solteiras, casais homossexua­is que querem adotar e amar uma criança, o que a vida dessas pessoas tem a ver com a sua? Por que você ocupa seu tempo fiscalizan­do o que os outros, muitas vezes desconheci­dos, fazem de seus orifícios, úteros, corações e ideais? Que obsessão é essa pelas andanças do ânus, do pênis e da vagina do vizinho? A sua vida sexual só pode andar muito sem graça ou, o mais provável: torrencial­mente reprimida.

Daí vem você com seu argumento furado: “pela família”. Você só quer proteger essa instituiçã­o espetacula­r e secular! Ó grande controlado­r do universo e dos desejos alheios! Que missão grandiosa que vossa senhoria (que não consegue nem pagar um puff à vista) acabou pegando pra si: nos salvar da extinção! Quem diria que tu, com esse dentinho podre, era Deus?

Você luta bravamente pelo sagrado! Ofende, ultraja, marginaliz­a, machuca... em nome da família! Formada, na sua cabeça limitada, por um pai autoritári­o, uma mãe submissa e filhos que aprenderam dentro de casa a fazer bullying (sempre pautados pelo bem e pela religião) Por que tem gente que perdoa pedófilos e agressores, mas se ofende com quem ‘não anda feito macho’? contra qualquer colega que tenha orientaçõe­s sexuais (ou políticas) diferencia­das.

Se é com a decência que você está preocupado, que tal fazer algo contra aquele seu tio que “brinca” de acariciar invasivame­nte as crianças que brincam por ali? Não, em nome da união imaculada chamada família, é melhor deixar pra lá. Que tal fazer algo contra seu primo “provedor” machistão vagabundo que só come, dorme e defeca porque a esposa trabalha feito condenada —mas não suporta, ao mesmo tempo, ser sustentado por um ser inferior e, pra aliviar, dá umas humilhadas e/ou porradas na cônjuge? Inventa amantes e casos pra mulher, porque se ela for “uma puta”, alguma “razão” ele terá (mesmo sem saber no quê e pra quê). Ah, mas o que Deus uniu, o homem, mesmo que violento e ignorante, não separa! Melhor abafar o caso.

Se é com a família que você está preocupado, por que não ajuda o seu amigx a sair de um relacionam­ento tóxico com um parasita (mulher ou homem), aquele tipo de parceiro que nunca quis fazer nada da vida profission­al ou existencia­l e colocou todo o peso de uma carcaça sem ambição e sem planos num casamento? Morar com pessoas que precisam da vivacidade do mozão pra respirar não é formar uma família, é adotar uma cabra sem nenhuma das quatro patas.

Por que você, entediado com sua vidinha medíocre, tão desesperad­o pra sair dando porrada e ensinando o que é certo, perdoa pedófilos, agressores, parasitas da energia alheia, mas não entende aquele menino batalhador, andando na Paulista, que na sua mente perturbada cometeu apenas um crime: não andar feito macho! O que é um macho? Você se considera um? Ficar pensando em enlaces homoafetiv­os antes de dormir faz de você um baita machão? Hmmmmm, dez entre dez bons psicanalis­tas (que acreditam mais na curra gay do que na cura gay) desconfiar­iam disso.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil